Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Meteorito encontrado na África em 2012 é uma amostra da crosta marciana

A pequena rocha ajuda a entender o processo de formação do planeta e do Sistema Solar

Desde as primeiras observações do céu, astrônomos se perguntam como surgiu o fantástico cenário que abriga a Terra, o Sistema Solar. Séculos se passaram, e a curiosidade só aumenta, estimulada por novas peças que são descobertas e ajudam a montar esse imenso quebra-cabeça. Uma das pistas mais frescas é descrita na edição de hoje da Nature. Segundo um estudo publicado na revista especializada, um meteorito encontrado no continente africano em 2012 é um raro exemplar dos elementos que constituíam a crosta de Marte há 4,4 bilhões de anos, o que traz valiosas informações sobre a infância do Planeta Vermelho e, consequentemente, sobre os momentos iniciais do conjunto formado pelo Sol e pelos planetas e outros objetos que o circundam.

Maria Elizabeth Zucolotto, especialista em meteoritos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), explica que nunca foi encontrada na Terra uma rocha tão antiga quanto a NWA 7533, nome dado à amostra. ;Essa descoberta nos fala mais sobre o começo do nosso Sistema Solar e decifra o comecinho de tudo. A superfície de Marte é muito antiga e começou a se diferenciar (da de outros planetas) nos seus primeiros 100 milhões de anos. Isso nos permite saber quão diferente esse planeta já foi e como a água sumiu de lá;, afirma a pesquisadora, que não participou do estudo.

A sigla NWA é uma referência à região onde a pedra de 40mm foi achada, o noroeste da África. Acredita-se que, há bilhões de anos, uma grande colisão ocorreu em Marte, fazendo com que um bloco rochoso se soltasse do planeta e vagasse pelo espaço. Um dia, então, esse bloco entrou em rota de colisão com a Terra e, ao entrar em sua atmosfera, foi pulverizado, restando dele apenas pequenos fragmentos.

Além do 7533, os cientistas recuperaram outros quatro meteoritos resultantes desse incidente. Um deles, o NWA 7034, foi descrito anteriormente em outra pesquisa, mas as análises não mostraram que sua origem era tão antiga, o que foi feito agora graças a uma técnica de análise de decaimento radioativo do urânio presente no pedregulho. Segundo Munir Humayun, pesquisador da Universidade da Flórida e principal autor do novo artigo, é possível afirmar que os dois objetos vieram de Marte devido à sua composição química única, típica do planeta vizinho. ;Eu quis analisar os elementos que são abundantes em meteoros condritos, mais raros em rochas da crosta terrestre. Um colega da universidade obteve uma amostra gentilmente cedida pelo proprietário, Luc Labenne, e a trouxe para o meu laboratório. Desde então, estamos ocupados decifrando os segredos desse meteorito;, diz.

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