Para resistir às implacáveis piranhas, o pirarucu, grande peixe do Amazonas, é dotado de um colete composto que o protege dos dentes dos predadores, ao mesmo tempo duro no exterior e flexível no interior, revelou um exame de raio-X feito por pesquisadores.
Segundo um estudo publicado nesta terça-feira (15/10) por uma revista científica britânica, "as escamas do pirarucu (;Arapaima gigas;) atuam como uma armadura natural com vários níveis de defesa". É uma "estrutura única" que não perde em nada para os coletes à prova de bala usados por militares e policiais.
Uma "estrutura sofisticada" à base de "elementos biológicos simples" é o segredo da blindagem tão eficaz do ;Arapaima;, explicaram os pesquisadores.
O primeiro nível de defesa das escamas é sua superfície com apenas meio milímetro de espessura, mas rica em minerais e muito dura, capaz de impedir a penetração dos dentes dos predadores aquáticos, às vezes chegando a quebrá-los.
Logo abaixo há uma segunda camada mais flexível, duas vezes mais grossa, composta de lâminas de colágeno, orientadas em diferentes direções e capazes de se alinhar em função da pressão a que são submetidas.
O resultado é que o impacto das mandíbulas das piranhas é amortecido e se distribui por uma grande superfície, impedindo que a blindagem externa se rompa.
É uma versão natural, porém mais aperfeiçoada, do acolchoado que os cavaleiros medievais usavam por baixo da malha das armaduras.
Segundo o relatório do exame, publicado nesta terça-feira na revista britânica Nature Communications, para aperfeiçoar ainda mais o dispositivo, as escamas do animal se sobrepõem de tal forma que transmitem energia à camada interna.
O ;Arapaima gigas; é um dos maiores peixes de água doce, com espécimes que pesam mais de 200 quilos, e tem de três a quatro metros de comprimento.
Se as escamas o protegem de piranhas e outros predadores naturais, são menos úteis contra o mais temido de todos, o ser humano, que o pesca intensamente por sua carne.
Abundante no século XIX, este peixe está ameaçado de extinção.
Apesar das medidas de preservação, muitos cientistas consideram que, para salvar a espécie, é necessário instaurar uma atividade de criação capaz de abastecer os mercados.
Carnívoro, o pirarucu cresce rapidamente, até 10 quilos por ano, e suporta condições de criação intensiva graças à sua capacidade de respirar o ar atmosférico, o que permite viver em ambientes mal oxigenados.