Paris - O tráfico de remédios falsificados, no qual indivíduos particulares competem com criminosos profissionais, se tornou um novo negócio muito lucrativo, muito mais do que o das drogas, segundo estudo divulgado nesta quarta-feira (25/9).
Entre 2008 e 2010, Mimi Trieu vendeu cerca de dois milhões de cápsulas para emagrecer aos clientes de seu salão de beleza na Filadélfia.
Estas cápsulas, supostamente "naturais", fabricadas no Japão, renderam a ele 245.000 dólares, mas na verdade eram importadas fraudulentamente da China e continuam sibutramina - uma substância que tira a fome e é proibida nos Estados Unidos e a maior parte dos países da Europa - e outas substâncias perigosas.
Assim como Victor Cheke, um britânico detido quando voltava da Ásia com milhares de cápsulas falsas para combater problemas de ereção e que pretendia vender na internet, Mimi Trieu está entre os indivíduos descritos no relatório do Instituto Internacional de Investigação das Falsificações de Medicamentos (Iracm), que mergulhou no lucrativo mercado dos remédios falsificados.
"Há uma democratização da criminalidade e da cibercriminalidade. Hoje, mais do que nunca, qualquer pessoa pode estar relacionada a este tráfico, seja de forma totalmente autônoma ou estabelecendo alianças com outros indivíduos", explicou Eric Przyswa, investigador da Mines-ParisTech e autor do relatório.
Segundo o Center for Medicine in the Public Interest, uma organização especializada americana, a venda de medicamentos falsos aumentou 90% entre 2005 e 2010, para atingir 75 bilhões de dólares (55 bilhões de euros). A atividade seria de 10 a 25 vezes mais rentável do que o tráfico de drogas.
Qualquer tipo de medicamento pode ser objeto de tráfico: antibióticos, anticoncepcionais, anti-malária e inclusive remédios contra o câncer. 62% de cápsulas vendidas online em 2011 eram falsas
O espaço das organizações criminosas "clássicas" e das redes terroristas neste tráfico, difícil de estimar, parece limitado, destacou o relatório. Só o Exército Republicano Irlandês (IRA) conseguiu, nos anos 1990, transformar realmente este tráfico em uma fonte de financiamento.
Para Eric Przyswa, o mercado de remédios falsificados parece dominado, ao contrário, por um tipo de "crime do colarinho branco que atua no setor da saúde" e às vezes se alia a particulares.
Entre dezembro de 2006 e maio de 2007, Peter Gillespie, especialista em contabilidade e distribuidor farmacêutico britânico, importou, através de sua sociedade, 72.000 pacotes de remédios falsificados.
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Fabricados na China - principal produtor de medicamentos falsos, à frente de Índia e Rússia -, embalados na França e revendidos legalmente na Grã-Bretanha, estes produtos lhe teriam rendido três milhões de libras (3,6 milhões de euros), antes de ser condenado a oito anos de prisão.
Outros criminosos de "colarinho branco" geriram uma verdadeira rede internacional, como Igor Gusev, um homem de negócios russo que nos anos 2000 criou a Glavmed, uma das redes mais importantes de distribuição de remédios falsificados na internet.
Graças a um programa de afiliação, os intermediários podiam abrir suas próprias farmácias "pré-fabricadas" na web e obter cerca de 40% das comissões das vendas. A "promoção" das farmácias falsas era garantida pelo envio de mensagens de spam, uma presença importante nos fóruns de discussão e na manipulação dos motores de busca.
Esse sistema teria faturado para a Glavmed ganhos mensais em 2011 de mais de um milhão de dólares (740.000 euros).
Segundo a Aliança Europeia para os Medicamentos Seguros, 62% das cápsulas compradas pela internet em 2011 eram falsificadas. Nos países desenvolvidos, apenas 1% dos medicamentos são falsificados.
Mas em alguns países árabes, da América Latina e da África, um terço é de remédios falsos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Nessas regiões, mais do que em qualquer outro lugar, o tráfico é particularmente perigoso: em 2009, 84 crianças nigerianas morreram depois de ingerir um xarope para tosse que continua anticongelante.