Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Reviravolta imunológica barra a esclerose múltipla, aponta pesquisa

Testada pela primeira vez em humanos, terapia consegue fazer com que o organismo volte a tratar a bainha que protege os neurônios como inofensiva e pare de destrui-la; redução dos ataques chega a 75%

Mesmo com a função de cobrir e isolar os neurônios para aprimorar a condução dos impulsos nervosos, a bainha de mielina pode ser encarada pelo organismo humano como inimiga. Passa a ser atacada por células de defesa, mecanismo que caracteriza a esclerose múltipla. As terapias atuais contra a doença auto-imune tendem a ser bastante agressivas. Para lutar contra a enfermidade, é declarada guerra a todo o sistema imunológico, deixando os pacientes mais suscetíveis a infecções e, até mesmo, a taxas mais altas de câncer. Um tratamento que busca solucionar essa questão acaba de ser testado em humanos com sucesso. Um grupo internacional de pesquisadores, integrantes de instituições alemãs e americanas, apresentou resultados expressivos com a técnica, reduzindo de 50% a 75% a reatividade do sistema imune de pacientes contra a mielina.



Os cientistas utilizaram uma abordagem inspirada nos mesmos princípios que guiam o desenvolvimento de vacinas: estimular a tolerância do organismo à substância que ele julga ser ruim. Os resultados alcançados são produto de mais de 30 anos de pesquisas do laboratório conduzido por Stephen Miller, professor de microbiologia e imunologia da Escola de Medicina da Universidade de North-western, nos Estados Unidos. Essa indução de tolerância ao ataque contra a bainha de mielina já havia sido bem-sucedida em modelos laboratoriais, mas, pela primeira vez, foi testada em humanos.

Nove pacientes tiveram o material sanguíneo coletado, de onde foram separados os glóbulos brancos. Filtradas, as células de defesa foram especialmente processadas e unidas a sete tipos de proteínas encontradas na bainha de mielina por um processo complexo desenvolvido por coautores do estudo, integrantes do Centro Médico da Universidade de Hamburg-Eppendorf, na Alemanha. Ao serem injetadas por via intravenosa esses bilhões de células, como estão acopladas às proteínas de mielina,, mesmo mortas, secretamente transportaram os antígenos (veja infográfico).