Pupilas dilatadas, coração acelerado, musculatura tensa e frequência respiratória alta. Esses são os sintomas clássicos provocados no organismo por uma alta descarga de adrenalina na corrente sanguínea. E, para que isso aconteça, basta uma pesada dose de som. Essa é a conclusão da fonoaudióloga Keila Knobel, pós-doutora pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Estadual de Campinas (Unicamp). Segundo ela, os poderes atrativos do som alto das baladas são capazes de provocar um grande aumento da secreção do hormônio, situação que pode se tornar viciante, assim como a ingestão de bebidas energéticas e de cafeína. O fenômeno atinge principalmente jovens que frequentam festas e shows com volumes muito acima do recomendado uma, duas, três ou até quatro vezes na semana.
;O som intenso é interpretado como uma situação de perigo pelo cérebro. Isso não por uma questão cultural, mas porque é da nossa constituição animal mesmo;, explica Knobel. Exposto a volumes intensos, o cérebro envia uma ordem para a glândula suprarrenal, que produz noradrenalina a partir de alguns aminoácidos. A noradrenalina, por sua vez, transforma-se em adrenalina, que é passada imediatamente para a corrente sanguínea e, consequentemente, para todo o corpo. ;Ela provoca todas essas reações, além de aumentar o metabolismo do açúcar. Digamos que é uma reação de estresse provocada por som intenso, mesmo que seja prazeroso, que seja a escolha da pessoa para se divertir.;
Knobel lembra de estudos realizados para a compreensão desse fenômeno. Segundo ela, em um deles, foram comparados os resultados de exames de urina de três tipos de trabalhadores: aqueles expostos ao ruído sem proteção, os que utilizavam o equipamento de segurança auricular e os que trabalhavam em um ambiente silencioso. A análise buscava entender se existe alguma diferença na secreção do hormônio conforme a quantidade de barulho captada pelos profissionais, já que a adrenalina e outros componentes parecidos, chamados de catecolaminas, podem ser detectados na urina. ;Foi percebido que trabalhadores expostos ao ruído e sem proteção auditiva possuem níveis mais altos dessa substância do que o restante dos participantes. Então, se confirmado nesses trabalhadores, obviamente esse problema ocorre também nas pessoas que estão expostas ao ruído durante períodos de lazer. O que importa não é se o som é agradável, mas a intensidade dele. Não é o som que te deixa viciado, mas a descarga hormonal que ele provoca;, adverte Knobel.