Outra constatação dos cientistas foi que o sulfato de magnésio, substância usada em nebulizações para dilatar os brônquios durante as crises, não funcionou com os ratos que tinham a variante genética. ;Isso sugere que o mesmo ocorreria com humanos;, acredita Worgall. Embora o estudo tenha sido direcionado para os casos de asma não alérgica, o pneumologista não descarta que o deficit na produção de espongilipídeos esteja associado a outros tipos da doença. ;Acreditamos que esse mecanismo desempenhe um papel na constrição dos brônquios, que é uma característica importante de todos os tipos de asma e pode diferir na magnitude de cada um deles;, afirma Worgall.
Tratamentos
A equipe continua investigando a relação entre a síntese da enzima que produz os espongilipídeos e a asma, em busca de um novo tratamento, pois a maior parte dos disponíveis atualmente têm como objetivo diminuir a inflamação das vias aéreas, uma condição que não existe no caso da asma de origem genética. ;Vemos pelo menos duas implicações em potencial para nossa descoberta. A primeira seria um novo tratamento para a asma. Talvez seja possível desenvolver agentes que ativem a produção dos esfingolipídeos no tecido pulmonar. Isso seria relevante para um subgrupo de pacientes que não respondem bem às terapias atuais;, acredita Worgall. Outra consequência do estudo, de acordo com ele, seria caracterizar melhor os diferentes tipos de asma para utilizar com mais precisão os tratamentos já existentes, como o sulfato de magnésio.
Miriam Moffatt, professora do Imperial College de Londres e um dos cientistas que descobriu a variante genética associada à asma, concorda com Worgall. ;Como resultado dos estudos genéticos, sabemos agora que as alergias podem, na verdade, ser uma consequência da asma. Isso não significa que as alergias não sejam importantes, mas quer dizer que terapias concentradas apenas nelas não vão tratar a doença efetivamente, como um todo;, opina. ;Embora a asma seja frequentemente interpretada como uma única doença, estudos genéticos estão sugerindo que o desenvolvimento dessa condição na infância pode ser biologicamente diferente daquela adquirida na vida adulta;, observa Kathaleen Barnes, alergologista da Universidade de Johns Hopkins, em Baltimore. Para ela, a combinação de dados obtidos por estudos de associação genômica ampla e tecnologias de última geração vão ;ajudar a desvendar as bases moleculares de doenças complexas, como a asma;.
Analgésicos mascaram a doença em crianças
Buscar novos fatores, além dos ambientais, associados ao desenvolvimento da doença na infância é essencial para que a asma seja identificada e tratada precocemente, segundo um estudo conduzido por cientistas de Boston e apresentado neste mês, durante Conferência Internacional da Sociedade Torácica Americana. Os pesquisadores descobriram que há uma ligação entre a doença e o uso exagerado das substâncias acetaminofeno e ibuprofeno, um analgésico e um anti-inflamatório presentes em diversos medicamentos que dispensam receita médica e amplamente usados pelos pais para diminuir a febre em crianças. Na realidade, essas drogas não provocam asma, mas podem mascarar importantes infecções respiratórias, dizem os autores.
Realizado com dados de 1.139 pares de mãe e filho participantes de um projeto que acompanhou os cuidados pré-natais e a primeira infância das crianças, o estudo examinou se o estilo de vida durante a gravidez e após o nascimento poderia estar relacionado ao desenvolvimento de asma e de outras doenças respiratórias na infância. As mães completaram questionários em diversas fases, nos quais tinham de descrever qualquer sintoma dos filhos nos primeiros três anos, além da frequência na administração do acetaminofeno e do ibuprofeno.
Os pesquisadores constataram que grandes doses dos medicamentos estavam diretamente ligados a maiores ocorrências de sintomas de asma e infecções como bronquite e pneumonia. ;Muitos pais dão analgésicos de forma excessiva para os filhos, sem pensar que a febre pode ser consequência de uma infecção respiratória. As doenças, portanto, ficam sem tratamento e podem se agravar;, alerta Joanne Sordillo, professora de medicina do Brigham and Women;s Hospital de Boston. ;Isso sugere que as infecções, e não os remédios, são o verdadeiro fator de risco por trás da asma em crianças;, diz.