Elas são feias, cascudas, nojentas e, até hoje, ninguém descobriu seu papel no ecossistema. Para piorar, estão se tornando resistentes aos inseticidas, de acordo com um estudo publicado na revista Science. As espertas baratas alemãs (Blatetella germanica), bastante populares nos ambientes domésticos, adotaram uma estratégia evolutiva para não cair mais em armadilhas: desenvolveram aversão à glicose, ingrediente-chave das iscas venenosas usadas em casa, incorporado a substâncias tóxicas justamente para atrair esses bichos. As espécies selvagens, entretanto, não apresentam a característica, o que evidencia que se trata de uma adaptação evolutiva. Esse é o primeiro trabalho científico que mostra como mutações no sistema gustativo resultaram em um novo comportamento.
Na metade da década de 1980, a indústria de controle de pestes começou a combinar inseticidas com nutrientes como o açúcar para conduzir as baratas ao cadafalso. Diferentemente de humanos, que só têm papilas gustativas na boca, os insetos são capazes de sentir gosto através das antenas, das pernas, dos pés e das asas. Além disso, nas pessoas, antes que os sinais sensoriais alcancem o cérebro, há um longo processo, que inclui conexões com três diferentes nervos. Nos insetos, ao contrário, isso é quase instantâneo. Pelos muito fininhos, com menos de um décimo de milímetro, e poros que contêm entre duas e quatro células neuronais especializadas em reconhecer quatro sabores (salgado, doce, amargo e ácido) já enviam ao cérebro a informação pronta para ser usada. Não apenas o tipo de gosto, mas em qual parte do corpo ele foi identificado.