Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Chimpanzés e gorilas podem desenvolver distúrbios mentais dos humanos

Especialistas defendem o fim dos estudos biomédicos com grandes primatas



Billy Joe trabalhou duro até os 15 anos de idade, entretendo crianças em festas de aniversário. Apesar da exploração, cresceu livre, entre humanos, e apegou-se aos donos. Depois de tanto tempo de dedicação, contudo, foi vendido a um laboratório. O chimpanzé dócil e amigável deu lugar a um animal agressivo, ansioso, medroso. Deixado sozinho em uma jaula apertada, ele tinha repetidos ataques convulsivos e, em seguida, podia ficar horas na mesma posição, olhando para o nada. A libertação de Billy ocorreu apenas 14 anos depois, quando ele foi morar em um santuário. Mesmo cercado de carinho e atenção, o chimpanzé exibia um comportamento típico de quem sofre de estresse pós-traumático.

Tão parecidos com o homem, seu parente mais próximo na natureza, os grandes primatas também são vítimas de problemas mentais, como depressão, ansiedade, distúrbios alimentares e automutilação. Durante uma crise, Billy extirpou com os dentes o próprio dedo indicador. O comportamento do chimpanzé era tão extremo que, em 2009, ele ilustrou um artigo publicado na Developmental Psychology, a revista da Associação Americana de Psicologia. O caso do animal, porém, não é único. Billy junta-se a Lira, uma fêmea que passou a arrancar os pelos do corpo ao ser confinada, sozinha, em uma sala; a Bobby, o macho separado da mãe quando nasceu e que passou a vida provocando feridas em todo o corpo; a Nuri, um chimpanzé deprimido, que evitava companhia; e a tantos outros primatas usados como cobaias.