Washington - Um soldado americano que perdeu os membros superiores e inferiores em uma explosão no Iraque em 2009 diz ter voltado a se sentir como antes após se submeter, com sucesso, a um raro transplante duplo dos braços.
Brendan Marrocco, ex-membro da Infantaria da Marinha, o primeiro a sobreviver à perda dos quatro membros na guerra do Iraque, se submeteu há seis semanas a uma complexa cirurgia de transplante com 13 horas de duração.
O militar é uma das sete pessoas nos Estados Unidos a ser submetida com sucesso a um duplo transplante de braços, embora os médicos afirmem que ainda falta muito para poder afirmar com certeza que seu corpo não rejeitará os novos membros e que o paciente voltará a ganhar a funcionalidade das mãos.
"Ainda não tenho realmente sensibilidade, nem movimento nas mãos. Mas logo terei", disse Marrocco durante entrevista coletiva, sua primeira aparição pública desde a operação.
Vestindo camiseta cáqui e com os braços e as mãos cobertos por gessos e faixas, Marrocco expressou a determinação e a esperança de que as novas mãos mudarão a sua vida.
"Odiava não ter braços", afirmou. "Não ter braços tira muito de você", emendou, acrescentando que perder as duas pernas era, comparativamente, menos frustrante.
"Você fala com os braços, faz tantas coisas com as mãos", afirmou. "Quando não se tem isso, fica perdido durante um tempo".
O ex-soldado declarou que com seus novos braços se sente "quase como se tivesse voltado quatro anos", bem antes do ataque em uma estrada no Iraque, onde ficou gravemente ferido.
Um dos médicos, Jaime Shore, diretor clínico do programa de transplante de mãos do hospital universitário Johns Hopkins, explicou que Marrocco passará os próximos dois ou três anos fazendo "terapia intensiva nas mãos" durante seis horas por dia, todo dia.
"Brendan tem um trabalho de tempo completo agora", afirmou Shores, acrescentando que o processo "demandará um esforço incrível" à medida que seus nervos se regeneram e seu corpo aprende a usar suas novas extremidades.
Ele explicou que Marrocco foi escolhido para a cirurgia em parte porque a equipe médica acreditava que era capaz de enfrentar o desafio.
"É um homem jovem com uma tremenda esperança e é obstinado, em um sentido positivo", acrescentou Shores. "O céu é seu limite", acrescentou, ao falar do potencial de Marrocco para fazer com que suas novas extremidades voltem a ser funcionais.
Marrocco disse que espera poder voltar a dirigir, pois tem um carro Dodge Charger preto que nunca dirigiu esperando por ele.
Ex-jogador de futebol americano, ele também disse querer voltar a praticar esportes, concretamente o ciclismo paralímpico.
"Um dos meus objetivos é fazer uma maratona com uma bicicleta de propulsão manual", afirmou Marrocco.
Além da complexa cirurgia, que demandou unir ossos, vasos sanguíneos, músculos, tendões, nervos e pele do receptor aos do doador, Marrocco está submetendo-se a um tratamento inovador para evitar a rejeição de seu organismo aos novos membros.
A técnica consistiu em injetar células da medula óssea do doador falecido, o que por enquanto conseguiu prevenir "a rejeição e a necessidade de medicamentos anti-rejeição, que poderiam causar complicações como a infecção ou o dano de órgãos", explicou esta segunda-feira o hospital Johns Hopkins em um comunicado.