Os restos de alumínio e aço do avião Fairchild F27 da Força Aérea Uruguaia, que se chocou com a Cordilheira dos Andes em 12 de outubro de 1972, estão preservados, assim como a memória dos 16 uruguaios que se tornaram personagens reais de uma das mais dramáticas histórias de sobrevivência do homem em condições extremas. No episódio, que ficou conhecido como Milagre dos Andes, os então jovens estudantes precisaram lutar contra a força ríspida da natureza e a igualmente violenta reação do próprio corpo, privado de suas necessidades mais básicas, como comida e calor. Nos 72 dias em que foram submetidos ao frio, à fome e ao isolamento, eles encontraram, entre os próprios medos, os valores e as crenças, um caminho para manterem a salvo o mais básico e universal direito humano: a vida.
Se no chamado Vale das Lágrimas repousam para a eternidade os restos físicos da tragédia que deixou 29 homens e mulheres mortos, na memória dos 16 que resistiram ao exílio forçado vivem os restos emocionais do acidente e de tudo que se seguiu a ele. O
Correio conversou com alguns desses homens, e a impressão deixada por seus relatos é que, embora a história possa ser recontada exaustivamente, só quem esteve lá poderia ter uma dimensão minimamente clara dos sentimentos de abandono, solidão e esperança vivenciados.