Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Hominídeos que viveram há 3 milhões de anos se adaptaram para comer capins

Entre os diversos aspectos que permeiam a história da evolução humana, a alimentação certamente foi responsável por uma série de modificações adaptativas que garantiram a continuidade das espécies. Em um artigo publicado ontem na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas), uma equipe de pesquisadores do Laboratório de Arqueologia da Universidade de Oxford, no Reino Unido, desvendou uma inesperada característica da dieta dos Australopithecus bahrelghazali, hominídeos que viveram há mais de 3 milhões de anos: eles se alimentavam de gramíneas e capins.

Os A. bahrelghazali são considerados os mais obscuros australopitecíneos, devido ao pouco material fóssil encontrado até hoje. O estudo britânico se tornou possível graças ao material encontrado em 1993 pelo paleontólogo francês Michel Brunet, em Bahr el Ghazal, no Chade. A partir da análise da concentração de isótopo de carbono nessas peças, os pesquisadores revelaram que, ao contrário de outros grandes primatas, a espécie se alimentava de plantas C4, cujo principal representante na época eram plantas rasteiras. ;O resultado sugere que os primeiros hominídeos eram capazes de reconhecer e explorar novos alimentos desde muito cedo na história evolutiva. Isso não só lhes permitiu explorar muito hábitats como também marcou a diferença entre eles e os seus primos: os grandes primatas;, explica ao Correio Julia Lee-Thorp, principal autora do artigo.



Para Bernardo, como o continente africano sofreu severas mudanças ambientais entre 4,5 milhões e 2,5 milhões de anos atrás, resultando em um processo de savanização, fica claro que a oferta de plantas C4 naquele momento tornou-se mais abundante. ;Os hominíneos capazes de consumir esses vegetais desfrutaram, ainda que momentaneamente, de um nicho ecológico mais abundante do que aquele disponível aos indivíduos que só consumiam plantas C3. Evolutivamente, tal característica é pertinente, pois representa uma vantagem na aquisição de energia;, reforça. Dessa maneira, ao consumir essas plantas, os A. bahrelghazali aproveitaram os recursos disponíveis de maneira mais eficiente.