Um estudo publicado esta semana na revista científica Science mostrou como os enga, grupo de maior família linguística da Papua Nova Guiné, conseguiu contornar duas grandes ondas de violência na região utilizando seus mecanismos internos. Em ambas as situações, a resposta estava nos anciãos do grupo, chamados a liderar instituições baseadas não em leis escritas, mas em práticas como a troca de favores e pagamentos em dinheiro ou bens materiais. De acordo com as autoras do estudo, tais modelos tribais de solução dos conflitos podem ter contribuído para moldar o repertório de comportamento que tornou possível a vida do homem em sociedades estatais.
Para entender o sentido social por trás dos conflitos entre clãs, a antropóloga Polly Wiessner, da Universidade de Utah, nos Estados Unidos, passou 13 anos morando com os enga. Ela explica que eles sempre foram um povo bélico, mas, durante dois períodos, os conflitos internos foram agravados. ;O primeiro foi pré-colonial, com a introdução do plantio da batata-doce, há 350 ou 400 anos atrás. A atividade levou a profundas modificações na organização social dos enga.; Segundo a autora, essa foi a primeira vez em que o povo teve acesso a um excedente de produção. O fato poderia ser um estímulo para o convívio pacífico, mas incitou a competição por mais status e riqueza. As guerras foram o meio encontrado para tentar resolver as diferenças na distribuição dos recursos.