;Já se passaram anos desde que enviei ao senhor uma boa quantidade do ludus helmotiano, a partir do qual eu produzi o material sulfuroso que anexo abaixo. Confio na sua sabedoria para entender que efeitos ele produz;, escreveu o alquimista Augustin Boutens em uma carta dirigida ao então primeiro secretário da Royal Society, Henry Oldenberg. Como não houve resposta, é possível que o destinatário nunca tenha aberto a correspondência, datada de 1675. Nesse caso, ele pode não ter visto que o material que acompanhava a mensagem era, segundo Boutens, uma amostra do lendário alkahest, um solvente universal destinado a ser o ;grande remédio;, que garantiria a cura para todos os males.
Durante séculos, a busca pelo composto mobilizou alquimistas e filósofos naturais. Agora, em 2012, foi parar nas mãos de duas pesquisadoras brasileiras. À primeira vista, a substância é apenas uma pitada de pó amarelado embalado em um pedaço de papel e colado na correspondência. Foi dessa forma, aliás, que a historiadora inglesa Marie Boas, possivelmente a primeira pessoa a abrir o envelope, a descreveu. ;Amostra do que parece ser pirita, anexada ao texto;, anotou, na década de 1960, ao fazer uma pesquisa nos arquivos da Royal Society. Ao abrir o embrulho, no entanto, Ana Maria Goldfarb e Márcia Ferraz, do Centro Simão Mathias, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (Cesima PUC-SP), viram que o valor histórico do material era muito maior.
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