Genebra - Uma nova partícula "coerente" com o bóson de Higgs foi descoberta pelos cientistas, mas ainda são necessárias verificações para confirmar se esta é ou não a "partícula de Deus", anunciou o Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (CERN). O bóson de Higgs é considerado pelos físicos a chave para entender a estrutura fundamental da matéria e a partícula que atribui a massa a todas as demais, segundo a teoria conhecida como "modelo padrão".
"Superamos uma nova etapa em nossa compreensão da natureza", afirma em um comunicado o diretor geral do CERN, Rolf Heuer. "A descoberta de uma partícula cujas características são coerentes com as do bóson de Higgs abre o caminho para estudos mais profundos que necessitarão de mais estatísticas para estabelecer as propriedades de uma nova partícula", completa. "Esta partícula permitirá descobrir outros mistérios de nosso universo", segundo Heuer.
Pouco antes da divulgação do comunicado, Joe Incandela, porta-voz de um dos experimentos em curso para buscar o bóson, explicou em um seminário científico em Genebra as descobertas dos últimos meses. "Observamos um novo bóson, mas precisamos de mais dados para determinar se é ou não o de Higgs", disse a um grupo de cientistas.
[SAIBAMAIS]As pesquisas acontecem no Grande Colisor de Hádrons (LHC), o maior acelerador de partículas do mundo, na sede do CERN em Genebra. Neste túnel de 27 quilômetros de circunferência, instalado a 100 metros de profundidade, os físicos provocam o choque de bilhões de prótons com a esperança de encontrar, com a ajuda de todo tipo de detectores, o rastro do bóson entre os restos (cascatas de partículas).
O anúncio desta quarta-feira (4/7) acontece depois de, no mês de dezembro, o mistério sobre o bóson de Higgs ter sido consideravelmente reduzido quando os dois experimentos independentes que acontecem no LHC (ATLAS e CMS) limitaram uma região situada entre 124 e 126 giga elétron-volts (1 GeV equivale à massa de um próton). Esta unidade de energia é utilizada para representar a massa das partículas seguindo o princípio de equivalência energia-massa (o famoso E=mc2), os dois atributos da matéria.
O principal obstáculo é a margem de erro dos dois experimentos, ainda muito grande, apesar do grande número de dados acumulados, e que obriga os cientistas a falar de "indícios" e não de "descoberta" do bóson. Em 1964, o físico britânico Peter Higgs, ao lado dos colegas Robert Brout e François Englert, postulou por dedução a existência do bóson que leva seu nome. Há mais de 40 anos os cientistas estão à procura da partícula.
Nesta quarta-feira, Higgs, de 83 anos, se mostrou muito feliz com o anúncio da descoberta de uma nova partícula que poderia ser o bóson que leva seu nome. "Estou estupefato com a incrível velocidade com que os resultados foram obtidos", afirma Higgs em um comunicado divulgado pela Universidade de Edimburgo, na Escócia. "Nunca pensei que assistiria a algo assim em vida e vou pedir para minha família que coloque o champanhe na geladeira", completou o cientista, que estava em Genebra no seminário do CERN que revelou a notícia.