Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

USP desenvolve software capaz de diferenciar tecidos doentes em tomografias

O diagnóstico por imagem pode ficar mais simples. O pesquisador Alceu Ferraz Costa, do Instituto de Ciências Matemáticas e da Computação (ICMC) da Universidade de São Paulo em São Carlos desenvolveu um software que seleciona as imagens do corpo humano solicitadas pelo profissional de saúde e destaca as áreas que devem ser analisadas com mais atenção. Além da capacidade de fornecer uma espécie de pré-diagnóstico, o grande diferencial da tecnologia, desenvolvida inicialmente para análises do pulmão, é que o exame a ser estudado dispensa o uso de contrastes, substâncias usadas para realçar determinados órgãos e que podem provocar reações alérgicas em alguns pacientes. O método foi criado a partir de algoritmos %u2013 fórmulas matemáticas que orientam o funcionamento de programas de computador. De acordo Ferraz Costa, atualmente, os grandes hospitais têm armazenados em seus bancos de dados uma grande quantidade de imagens de exames médicos em formato digital. Quando um paciente realiza uma tomografia computadorizada ou uma ressonância magnética, as imagens e o laudo médico que descrevem esse exame são armazenados. Então, o objetivo da pesquisa foi desenvolver técnicas computacionais que permitam ao computador aprender a analisar as imagens médicas a partir dessas imagens e laudos que compõem os arquivos dos hospitais. %u201CAssim, quando um novo exame médico de imagem for realizado, o computador poderá auxiliar o especialista médico a avaliar o estado de saúde do paciente%u201D, explica. No desenvolvimento inicial do projeto, Costa optou em trabalhar com imagens de tomografia do pulmão. %u201CNós desenvolvemos um sistema que analisa essas imagens previamente laudadas, nas quais os especialistas médicos demarcaram as regiões com alguma anormalidade. Ao analisar tais imagens, nosso sistema aprende a diferenciar o tecido pulmonar saudável do tecido pulmonar que apresenta alguma anormalidade%u201D, descreve o pesquisador. Dessa forma, quando um novo exame de tomografia pulmonar é realizado, o sistema indica para o especialista quais regiões da imagem merecem uma maior atenção. Fractais Segundo Costa, para analisar as imagens de tomografia do pulmão foi desenvolvida uma técnica computacional denominada fast fractal stack (FFS). Ele conta que a técnica modela as estruturas pulmonares utilizando a teoria matemática dos fractais, utilizada para descrever formas geométricas nas quais existe uma semelhança dos detalhes com a figura completa. %u201CAssim, a técnica FFS analisa as imagens de tomografia do pulmão e retorna uma descrição computacional para cada uma delas%u201D, esclarece. Essas descrições computacionais somadas aos laudos médicos são utilizadas pelo software para aprender a diferenciar o tecido saudável do não saudável. Isso é feito por meio da identificação de padrões entre os laudos dos bancos de dados e as descrições computacionais das imagens retornadas pela técnica FFS, processo conhecido como mineração de dados. %u201CO sistema pode indicar áreas em um exame de tomografia pulmonar nas quais existem tecidos com algum tipo de anormalidade. Essas anormalidades podem ser indícios de alguma doença pulmonar e, por isso, devem merecer uma maior atenção%u201D, destaca. [SAIBAMAIS]Para o pesquisador, é muito importante observar que sistemas de diagnóstico auxiliado por computador, como o que foi desenvolvido na USP, não visam substituir o médico. %u201CO objetivo é fornecer informações que facilitem o trabalho do especialista%u201D, salienta. O software ainda é um protótipo e foi orientado pela professora Agma Traina, que participa de um projeto de análises de imagens médicas pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Convergência Digital (INCT InCoD). Para o desenvolvimento do primeiro modelo foram utilizados exames de tomografia fornecidos pelo Hospital das Clínicas da USP de Ribeirão Preto. O próximo passo da pesquisa será avaliar o sistema em ambiente clínico. O radiologista da Amil Marco Antônio explica que a tecnologia dos diagnósticos feitos por imagens está cada vez mais avançada. Contudo, esses sistemas ficam limitados aos exames feitos com e sem contraste. %u201CApesar de serem substâncias controladas e que praticamente não causem efeitos colaterais, ainda há pessoas que são alérgicas e as complicações desses medicamentos nessas pessoas são sérios%u201D, diz. O contraste é usado para melhorar a visualização. Segundo Marco Antônio, quando injetado no organismo, as células anormais absorvem a substância e são realçadas no equipamento. Contudo, nem sempre elas indicam se aquela anormalidade é um tumor, por exemplo. %u201CPor vezes, é bem nítido e, com a experiência do especialista, não se torna necessário fazer incisão para retirar (uma amostra) de tecido. Mas não é sempre assim, então ter uma técnica não invasiva e com mais nitidez seria ótimo%u201D, afirma. Para Antônio, se o software conseguir aumentar essa visibilidade sem utilizar o contraste, será um avanço significativo.