Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Último símio tem o DNA mais próximo dos humanos do que do chipanzé

Paris - Cientistas anunciaram nesta quarta-feira ter decodificado o código genético do bonobo e descobriram que o símio têm um DNA mais próximo dos humanos do que de seu parente mais próximo, o chimpanzé.

O bonobo é o último dos chamados grandes símios a ter seu genoma decodificado, depois do chimpanzé, do gorila e do orangotango.

Os dados, que os cientistas esperam que ajude a lançar luz sobre a linhagem humana, foram obtidos de Ulindi, fêmea de bonobo do zoológico de Leipzig.

Eles demonstraram que mais de 3% do genoma humano, que contêm nossos dados hereditários codificados no DNA, são mais próximos tanto do genoma do bonobo quanto do chimpanzé do que dos dois símios que entre si.

A informação "abre a possibilidade de medir com precisão a diversidade genética e, consequentemente, a história populacional do ancestral (comum)", destacou a equipe de pesquisas internacional no estudo publicado na revista Nature. O bonobo e o chimpanzé são os parentes vivos mais próximos do homem.

O estudo genético demonstrou que os humanos diferem cerca de 1,3% dos bonobos ou dos chimpanzés, que por sua vez diferem cerca de 0,4% entre si. Embora sejam similares em muitos aspectos, os símios africanos diferem em comportamentos sociais e sexuais importantes e alguns demonstram mais similaridade com os humanos do que entre si.

Os machos dos chimpanzés competem agressivamente por domínio e sexo, unem forças para defender seu território e atacam outros grupos. Os machos de bonobos, no entanto, costumam ser subordinados às fêmeas, não competem por hierarquia e não tomam parte em confrontos. São animais brincalhões que fazem sexo por diversão e não apenas para se reproduzir.


"Tanto chimpanzés quanto bonobos possuem características específicas que são mais similares às dos humanos do que são entre si", destacou o estudo. A pesquisa demonstrou que um ancestral comum "pode, de fato, ter tido um mosaico de características, inclusive algumas agora vistas em bonobos, chimpanzés e humanos".




Os chimpanzés se espalham ao longo da África equatorial, enquanto os bonobos se restringem ao sul do Rio Congo, na República Democrática do Congo. Devido ao seu hábitat pequeno e remoto, os bonobos foram a última espécie de símio "descoberta" nos 1920, e são os mais raros de todos os símios em cativeiro.

Para o cientista Kay Pruefer, biólogo do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, em Leipzig, Alemanha, a pesquisa forneceu mais informações sobre bonobos e chimpanzés do que sobre os humanos. "Esperamos que o entendimento das diferenças entre bonobos e chimpanzés nos ajude, um dia, a entender como era o ancestral comum (de humanos, chimpanzés e bonobos)".

"Seria muito interessante porque nos informaria qual foi o novo traço que os humanos adquiriram em sua evolução ao longo de milhões de anos", concluiu.

Os cientistas explicaram que o sequenciamento genético demonstrou que bonobos e chimpanzés não se misturaram ou cruzaram entre si depois que seus caminhos se separaram geograficamente, cerca de dois milhões de anos atrás, provavelmente na época da formação do Rio Congo.