Agência France-Presse
postado em 03/05/2012 19:16
Washington - Com pele escura e cabelos aloirados, os nativos das Ilhas Salomão, no Pacífico Sul, têm um gene raro que, ao contrário do que se poderia pensar, não resultou da miscigenação com os europeus, afirmaram cientistas em um estudo publicado nesta quinta-feira (3/5).Os visitantes do arquipélago costumam supor que os cabelos claros dos nativos melanésios resultaram de mestiçagens antigas com comerciantes europeus, enquanto os locais costumam atribuir seus cachos dourados a uma dieta rica em peixe ou à exposição constante ao sol.
Mas a razão pela qual de 5% a 10% dos insulares são loiros seria puramente genética: um gene denominado TYRP1, que os nativos das Ilhas Salomão possuem, mas os europeus não, revelou um estudo publicado na revista científica Science.
"Sendo assim, a característica humana do cabelo loiro surgiu de forma independente na Oceania Equatorial. Isto é inesperado e fascinante", afirmou o principal autor do estudo, Eimear Kenny, aluno de pós-doutorado da Universidade de Stanford, na Califórnia.
Os cientistas ganharam a confiança de um líder local e coletaram dados de 1.000 pessoas, inclusive sobre cor dos cabelos e dos olhos, pressão sanguínea, altura e peso, bem como amostras de saliva para exames de DNA.
As análises laboratoriais em amostras de 43 nativos de cabelos loiros e 42 de cabelos escuros começaram em setembro de 2010 e "no prazo de uma semana, tivemos nosso resultado inicial", afirmou Kenny. "A seta apontou de forma tão contundente para um único gene, que seria possível pendurar o chapéu nela. Isto raramente acontece com a ciência", acrescentou.
A ideia de estudar a genética da população foi do co-autor do estudo, Sean Myles, um ex-aluno de pós-doutorado de Stanford, que agora é professor assistente da Nova Scotia Agricultural College, após uma viagem às ilhas em 2004. "Eles têm a pele muito escura e o cabelo loiro. É intrigante", disse Myles.
Carlos Bustamante, outro co-autor da pesquisa, professor de genética em Stanford, disse ela aponta para a necessidade de se investigar mais os genomas de populações pouco estudadas.
"Uma vez que a maioria dos estudos sobre genética humana inclui apenas participantes de origem europeia, podemos ter uma visão muito tendenciosa de quais genes e mutações influenciam os traços que investigamos", explicou Bustamante.