Paris - Experiências que tentam simular o impacto do aquecimento global nas plantas subestimam o que acontece no mundo real, revelou um estudo publicado na edição desta quarta-feira (2/5) da revista científica britânica Nature.
A pesquisa apoia observações feitas por fazendeiros e jardineiros, especialmente no hemisfério norte, segundo os quais plantas sazonais estão florescendo muito mais cedo do que no passado.
Experimentos artificiais sobre o aquecimento global costumam consistir no encerramento de uma planta em uma câmara similar a uma estufa sem tampa ou em uma tenda com um pequeno aquecedor no telhado, de forma a replicar os efeitos do aumento da temperatura.
Estes experimentos determinaram que a florada e a folheação ocorrem entre 1,9 e 3,3 dias antes para cada grau Celsius de elevação da temperatura.Mas o estudo diz que o número exato é muito maior.
As plantas começam a desenvolver folhas e flores entre 2,5 e 5 dias mais cedo a cada 1;C mais quente, destacou a pesquisa, baseando-se em uma comparação entre experimentos sobre aquecimento em 1.634 espécies de plantas e observações de longo prazo destas espécies na natureza, realizadas por 20 instituições de América do Norte, Japão e Austrália.
"Até agora, presumia-se que sistemas experimentais responderiam da mesma forma que os sistemas naturais respondem, mas não é o que acontece", explicou em um comunicado o co-autor da pesquisa, Benjamin Cook, do Observatório Terrestre Lamont-Doherty da Universidade de Columbia, em Nova York.
Os métodos experimentais podem falhar porque reduzem luz, vento ou umidade do solo, que afetam a maturidade sazonal da planta, destacou o artigo.
Segundo o Quarto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), publicado em 2007, as temperaturas da superfície do globo subiram 0,74;C entre 1906 e 2005.
De acordo com as tendências atuais de emissões de carbono, responsáveis pelo aumento da temperatura no globo, a Terra encaminha-se para um aquecimento adicional de 2;C ou mais, segundo estimativas publicadas por outras fontes no ano passado.
Para alguns especialistas, estas estimativas são conservadoras. Eles afirmam que muitos locais estão esquentando muito mais rápido do que a média do planeta.
"A floração das cerejeiras, em Washington, DC, um fenômeno meticulosamente registrado e celebrado, se antecipou em cerca de uma semana desde os anos 1970", destacou o comunicado, publicado pelo Instituto da Terra, da Universidade de Columbia.
"Se a tendência se mantiver, algumas projeções recentes dizem que elas estarão saindo em fevereiro por volta de 2080", concluiu.