Quando o dramaturgo renascentista Christopher Marlowe escreveu a frase em latin quod me nutrit me destruit (o que me nutre me destrói) com certeza não imaginava que uma doença agiria da mesma forma. Ele se referia aos prazeres e às motivações da vida, mas o corpo humano entende de outro jeito. Ao ser submetido ao transplante de medula óssea alogênico, o organismo tem sua imunidade baixada para não rejeitar as novas células. Mas, ao mesmo tempo, a nova medula não reconhece o organismo e passa a atacá-lo, iniciando um processo conhecido como enxerto contra hospedeiro, que resulta em inflamações no órgão a ser tratado pelo transplante. Esse efeito colateral incide em até 50% dos pacientes, mas graças a pesquisadores mineiros pode estar com os dias contados. Eles detectaram um receptor ligado à doença, chamado fator de ativação plaquetário (PAF), e constataram que, sem ele, o distúrbio não se manifesta.
Imunossupressores são usados para evitar a doença do enxerto (no caso, a medula) contra o hospedeiro (o transplantado), explica Phillip Scheinberg, hematologista do Hospital São José. ;Essa doença surgiu entre a década de 1960 e 1970, com o desenvolvimento dos transplantes. Se eles não existissem, jamais surgiria esse mal;, observa o médico. Segundo Scheinberg, a enfermidade se manifesta até três semanas depois do procedimento e ataca o fígado, a pele e o trato gastrointestinal. A versão crônica não tem cura, embora tenha controle.
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