Marselha - A América Latina deve repensar a questão da água com "uma visão de longo prazo", "independente de mudanças políticas", disseram participantes da região no Fórum da Água, que acontece em Marselha, no sul da França, com a participação de 140 países.
Este Fórum, que busca encontrar soluções para garantir o acesso a água e ao saneamento, em um momento em que a mudança climática ameaça essa meta, conta com uma forte participação da América Latina, que se pergunta como enfrentar o problema, enquanto sua população urbana aumenta aceleradamente. [SAIBAMAIS]
Para José Luis Luege, diretor da Comissão Nacional da Água do México (CONAGUA), os países latino-americanos devem "fazer projeções a longo prazo para o uso eficaz de seus recursos hídricos", ao invés de planos que duram um mandato presidencial.
Os planos e estratégias para a água que são realizados na maior parte dos países da América Latina costumam depender "dos períodos para os quais são eleitos os governos, que duram entre quatro a seis anos", explicou. "Isso é um problema. Porque em cada ciclo presidencial querem reinventar a roda, disse Luege, artífice da "Agenda da Água 2030" do México, que tem por meta obter em 2030 "rios limpos, cobertura nacional (abastecimento de água e saneamento para todos), habitações seguras diante de inundações catastróficas e bacias e aquíferos em equilíbrio".
O funcionário, ex-ministro do Meio Ambiente do México, insistiu que essa Agenda da Água 2030 abre um "precedente na América Latina", porque garante o cumprimento de uma estratágia para a água a longo prazo, independentemente de quem está no governo. "No México vai haver uma mudança de governo", mas a Agenda de 2030 continuará sendo incentivada, porque é resultado de um consenso nacional", disse. "E isso na América Latina, onde os planos dão guinadas com cada mudança de governo, rompe os esquemas", destacou o responsável do CONAGUA.
A senadora brasileira Katia Abreu, que lançou terça-feira no Fórum de Marselha uma iniciativa para "proteger em escala mundial as zonas essenciais à preservação dos recursos da água", concordou com esta análise, e disse que é necessário que os planos que são incentivados tenham uma visão "de longo prazo" e sejam o resultado de "um consenso nacional".
A senadora do Partido Social Democrata (PSD), que preside a poderosa Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) disse em entrevista à AFP que o Brasil é "pioneiro" e "modelo" na experiência de incluir na legislação a preservação dos recursos hídricos. "Por isso vim a este Fórum, para trazer a experiência do Brasil na preservação de águas e lançar uma iniciativa que permitirá organizar zonas protegidas em todo o planeta para preservar os recursos da água em nível mundial", explicou. "Isso requer uma visão a longo prazo e um consenso nacional, mais além de partidos e governos", concluiu a política brasileira.
Nesta terça-feira, os ministros do Meio Ambiente de cerca de 80 países reunidos no Fórum Mundial da Água, com o lema "É hora de soluções", vão assinar uma declaração em que se comprometem que o acesso ao saneamento e à água potável se transforme em uma realidade para todos os habitantes do planeta.
Atualmente, 800 milhões de pessoas no mundo não têm acesso a água potável.