Marselha - A pressão sobre os recursos hídricos aumentou na América Latina, a região em desenvolvimento mais urbanizada do mundo, com mais de 80% da população vivendo em cidades e vilas, destaca um estudo das Nações Unidas apresentado nesta segunda-feira (12/3) no VI Fórum Mundial da Água. Urbanização excessiva, globalização e mudanças climáticas: estes são os novos desafios para a gestão da água na América Latina e no Caribe, ressalta o relatório apresentado na reunião realizada na cidade francesa de Marselha que reúne políticos, cientistas e especialistas de 140 países .
Esta pressão crescente coloca os governos da região diante de desafios novos, como a maneira de distribuir a água de forma justa e melhorar o seu acesso, acrescenta o texto. O documento explica que os desafios relacionados à água enfrentados por América Latina e Caribe estão relacionados às variações climáticas e da hidrologia, com o desenvolvimento econômico, com as disparidades na distribuição e na estrutura demográfica da população, além da gestão.
[SAIBAMAIS]O relatório alerta que muitas partes da região estão sujeitas a eventos climáticos extremos, como inundações, secas e variações climáticas relacionadas ao El Niño. O aumento da frequência e da intensidade de tais eventos requer uma redução dos riscos, adverte o estudo, notando que os países mais pobres da América Central, do Caribe e da região andina, "cuja gestão da água é relativamente ruim", serão os "mais propensos a sofrer as consequências das mudanças climáticas". Além disso, "as geleiras da região já estão recuando devido ao aquecimento global", o que afeta o abastecimento de água de cerca de 30 milhões de pessoas, assinala. "Cerca de 60% da água em Quito, e 30% da de La Paz vêm das geleiras. No Peru, as geleiras perderam 7 bilhões de metros cúbicos, quantidade suficiente para abastecer Lima por 10 anos".
As secas, que afetaram 1,23 milhões de pessoas entre 2000 e 2005, também causaram danos. O crescimento econômico contínuo permite prever um aumento do uso da água para a energia e "uma competição maior pelo abastecimento de água, já escassa". O relatório afirma que, com exceção do México e alguns outros países pequenos da América Central, os países da região tem com base de sua economia as exportações de recursos naturais, cuja produção demanda de abundância de recursos hídricos. ;O aumento da demanda global por recursos minerais, agrícolas e energéticos também irá aumentar a demanda por água", afirma o estudo.
Esta produção é, em grande parte, financiada com capital estrangeiro e muitas das instalações são de propriedade estrangeira. "Com isso, o maior motor do crescimento econômico na região está sujeito a fatores que estão fora do controle direto dos governos nacionais", observa. A expansão da mineração de ouro e cobre em Chile e Peru ocorre principalmente em áreas áridas, criando uma competição maior por água, tanto da agricultura de exportação quanto para atender às necessidades dos povos indígenas.
Em outros países, a produção de café requer grandes quantidades de água e seu processamento pode afetar seriamente a qualidade da água. O mesmo ocorre com outros recursos, alerta o texto, acrescentando que o turismo aumenta ainda mais a pressão sobre a água em muitas ilhas do Caribe. Outros fatores estão relacionados com a macroeconomia do comércio mundial e à natureza e eficácia dos sistemas institucionais que representam a gestão da água.
O documento conclui que "se observa uma incapacidade geral para criar instituições capazes de enfrentar a gestão da água em condições de escassez e conflito", mas nota alguns avanços em países que realizaram reformas, como Brasil e México e, em menor medida, em Argentina, Chile, Colômbia e Peru.