As chuvas são essenciais para a manutenção da vida na Terra, mas, em certas condições, podem ser extremamente perigosas. Junte alta temperatura, muita umidade, uma mudança brusca na posição dos ventos da atmosfera e pronto: tem-se o embrião de uma tempestade tropical. Como o nome já diz, o fenômeno se forma perto dos trópicos, em cima dos oceanos. Quando chegam ao continente, as tempestades perdem o motor que permite sua existência, a água. A força, contudo, já é tão grande que as cidades litorâneas se tornam vulneráveis. Hoje, os meteorologistas já conseguem calcular quão graves serão os estragos e têm conhecimento de causa suficiente para dizer se o fenômeno vai ficar ainda mais destrutivo.
Uma tempestade tropical surge a partir do que os especialistas chamam de instabilidade atmosférica. Grosso modo, uma atmosfera estável é aquela em que o ar da parte de baixo está mais frio e, portanto, mais pesado, enquanto o da parte de cima é leve e quente. Em regiões de calor, essa lógica se inverte: o sol aquece a água, que, por sua vez, aquece o ar logo acima. Repentinamente, a atmosfera se torna instável e dá origem à engrenagem que vai fazer todas as nuvens lá de cima se unirem em uma espiral (veja arte). ;Essa condição aparece de forma muito rápida e é imprevisível. Às vezes, a tempestade começa, às vezes, não;, diz o pesquisador Paulo Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
A boa notícia é que, se ela realmente surge, os meteorologistas têm uma série de ferramentas para orientar as pessoas quanto ao perigo do fenômeno. ;Conseguimos prever muitas coisas: a intensidade, o tempo que vai demorar para chegar a uma cidade, quando vai perder a força;, enumera Nobre. Essa capacidade fez com que os cientistas se dessem conta do aumento da incidência das tempestades tropicais. Até o século19, todo calor que chegava à Terra por meio do Sol conseguia se dissipar no fim do dia. Atualmente, no entanto, os gases de efeito estufa ; acumulados devido a anos de poluição no planeta ; ficam retidos. ;Os oceanos estão absorvendo 80% do calor que não consegue sair;, aponta o pesquisador do Inpe. O resultado: mais e mais tempestades.
Mistério
Se esse fenômeno tem, indiretamente, influência humana, outro permanece um mistério. Os tornados também surgem em atmosferas quentes e úmidas, mas ninguém sabe explicar direito o que determina sua formação. ;Nós realmente não sabemos. Essa questão tem sido foco de vários estudos de campo. Nós também estamos usando simulações de computador para tentar descobrir;, conta a pesquisadora Susan Cobb, do National Oceanic and Atmospheric Administration (Noaa), nos Estados Unidos. É lá, nos EUA, que está a maior taxa de incidência anual de tornados: são 1,3 mil, em média.
Com tantas incertezas, o máximo que os cientistas conseguem fazer é determinar quais regiões oferecem um clima propício para o aparecimento de tornados. ;Você precisa de alta umidade e algo que faça o ar subir rapidamente, com força, virando os ventos da atmosfera;, explica Kenneth Blumenfeld, professor da Universidade de Minnesota. Cada tornado surge de uma tempestade, mas nem sempre uma forte chuva dá origem ao fenômeno. ;Saber exatamente qual das tormentas resultará em um tornado é algo que os meteorologistas ficaram mais capazes de fazer, mas ainda é difícil;, reconhece. Além dos EUA, outro lugar onde são registrados muitos desses fenômenos é a Austrália. Eles podem ainda ocorrer ocasionalmente na Europa, em Bangladesh, na África do Sul, na Argentina e no Brasil.