Assim como uma panela hermética, a crosta da Terra é preparada para aguentar uma certa quantidade de pressão abaixo dela. Quando essa pressão extrapola os limites, acontecem os terremotos, que liberam gigantescas ondas de energia. Geralmente, esses fenômenos sacodem lugares já mapeados pelos cientistas, onde estão as chamadas falhas geológicas. É possível, porém, que outras regiões sejam atingidas de vez em quando ; até em Brasília já foi percebido um pequeno terremoto. Mesmo com os especialistas sabendo tudo isso, esses eventos ainda são imprevisíveis. Assim, o único jeito de evitar uma grande catástrofe é adaptando construções e orientando a população ; algo que até os disciplinados japoneses tiveram dificuldade para fazer.
O principal problema de quem estuda os terremotos é identificar, com precisão, onde estão as áreas sob pressão. Nos limites das placas tectônicas, fica fácil. Mas há rachaduras internas, distantes dessa fronteira delicada, que também podem ceder. ;Quando a falha é intraplaca, é complicado percebê-la por meio dos estudos. Ela também acumula energia, menos do que nos limites, mas, ainda assim, em quantidade considerável;, explica George França, pesquisador do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UnB). Em 1812, um grande sismo desse tipo abalou a cidade de New Madrid, no estado do Missouri, nos Estados Unidos. Segundo os registros, o abalo chegou à magnitude 7,7 na escala Richter.
Se os cientistas não conseguem prever esse tipo de atividade, para que servem, então, os inúmeros sismógrafos espalhados pelo planeta? Para, pelo menos, dar uma noção de quando a terra vai tremer. ;A moderna tecnologia não está boa o suficiente para dizer, com exatidão, quando os terremotos vão acontecer. Mas ela pode dar uma estimativa do período de retorno, em anos ou centenas de anos, de grandes terremotos;, conta Yong Wei, do National Oceanic and Atmospheric Administration (Noaa), nos EUA. Graças a essa ciência, os pesquisadores sabem que a falha de Santo André, que corta o estado norte-americano da Califórnia de norte a sul, pode sofrer um enorme tremor. Há anos, diversos estudos mapeiam a incidência de pequenos abalos na região ; que seriam sinais do grande sismo.
Ondas
Outra utilidade do monitoramento dos terremotos é que eles alertam para a origem de outro fenômeno devastador: o tsunami. Quando ocorrem no mar, os abalos deslocam porções de água que viajam a uma velocidade de até 800km/h e chegam ao continente. ;Analisando a intensidade do tremor e a topografia do terreno oceânico, conseguimos avisar para as pessoas como e de que forma a onda gigante vai chegar ao litoral;, esclarece João Willy Corrêa, pesquisador associado do Instituto de Geociências da UnB. No caso do terremoto do Japão, em março deste ano, esse conhecimento não foi suficiente para evitar a catástrofe. Por falta de estudo do fundo o mar, os cientistas não sabiam que havia uma camada extra de sedimentos, capaz de dar um verdadeiro impulso na altura da onda.
Além do efeito surpresa, os japoneses também não estavam preparados para um tremor de magnitude 9. As barragens, contenções e paredes de edifícios só eram capazes de suportar eventos de grandeza até 8,4 na escala Richter. E é para impedir uma nova tragédia que os geólogos se associam a profissionais de outras áreas, inclusive, da história. ;O planejamento e a mitigação do risco de um tsunami não devem ser feitos apenas com base nos registros recentes. É preciso voltar centenas de anos, mesmo antes da história escrita, e nos prepararmos melhor;, defende o pesquisador Yong Wei.