São Paulo ; O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos em todo o mundo, de acordo com dados do Programa de Avaliação de Resíduos de Agrotóxicos (Para), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Cerca de 1 milhão de toneladas de produtos contra insetos, fungos, bactérias e outros seres que destroem as lavouras foram comercializados no país somente no ano passado. Diante dessa realidade, um novo inseticida que consegue combater, ao mesmo tempo, tanto insetos sugadores ; como lagartas ; quanto mastigadores ; caso dos percevejos ; promete facilitar a vida dos agricultores.
Desenvolvido para ser usado especialmente em sementes transgênicas de soja e de milho, o inseticida é eficaz contra diferentes tipos de inseto por reunir duas substâncias: a bifentrina e o imidacloprid. A primeira é capaz de matar pragas mastigadoras simplesmente ao entrar em contato com elas. Essa substância afeta os canais de sódio dos neurônios que emitem os impulsos elétricos entre as células do ser vivo. Ao atingir esses canais, a entrada de sódio na célula é reduzida. Consequentemente, é diminuída a saída de potássio da estrutura. O processo faz com que ocorra excesso de descargas elétricas nos neurônios, provocando hiperexcitação de células nervosas e musculares. Tal alteração neurológica causa a morte do animal.
;A bifentrina não chega a ser absorvida pela planta, apenas forma uma barreira química em volta dos grãos;, assegura Gustavo Canato, gerente de produtos inseticidas da FMC Brasil, empresa que desenvolveu o novo produto. Ele ressalta que, dessa forma, não há risco de o ser humano se contaminar com o produto.
Sistema nervoso
A outra substância ativa presente no inseticida é o imidacloprid, usada contra sugadores. ;Esse componente vai para dentro do vegetal e, quando consumido pela praga, mata-a. Sua ação pode ser instantânea ou levar algumas horas para ocorrer. Depende da resistência do inseto;, explica Canato. O imidacloprid bloqueia os receptores nicotínicos do animal que ataca a lavoura, responsáveis por enviar estímulos aos neurônios que têm como neurotransmissor a acetilcolina. Ao impedir os receptores de agir, a substância causa a deterioração do sistema nervoso. Canato garante que o imidacloprid apresenta baixa toxicidade para mamíferos, já que ele age essencialmente nos receptores encontrados em maior quantidade nos insetos.
;Ao usar o produto, o aumento de produtividade no cultivo de milho foi de 8%, enquanto nas lavouras de soja esse aumento chegou a 10%;, destaca o gerente. Ele acrescenta que o inseticida, que já está presente no mercado brasileiro, serve para controlar a população de pragas, em vez de eliminá-las totalmente. ;Hoje em dia, o foco dos agricultores é o manejo desses seres, não sua destruição. Isso porque os insetos, fungos e bactérias estão mudando de hábitos, de tal modo que eles migram entre as plantações, não mais focando em atacar apenas um tipo de vegetal;, detalha.
A repórter viajou a convite da FMC Brasil.