A decisão canadense de deixar, formalmente, o Protocolo de Kyoto, anunciada na segunda-feira, foi duramente criticada ontem por ambientalistas do país e de outros lugares do mundo. Elizabeth May, líder do Partido Verde do Canadá, afirmou estar preocupada com a reputação de seu país, e perguntou ao Parlamento, em Ottawa: ;Quem voltará a pensar que somos uma nação confiável?;
Josh Laughren, diretor do Programa de Clima e Energia da seção canadense do Fundo Mundial para a Natureza (WWF), disse que a decisão ;realmente relega o Canadá à margem; da diplomacia climática internacional. ;No rastro de um acordo frágil em Durban, isso não traz esperanças.;
A renovação do Protocolo de Kyoto ; único documento que obriga as nações ricas a emitirem menos gases causadores do aquecimento global ; foi acertada no domingo, no encerramento da 17; Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (COP-17), em Durban, na África do Sul. No dia seguinte, o governo do premier conservador Stephen Harper anunciou que seu país se retirava do acordo, tentando evitar pagar sanções de até US$13,6 bilhões por descumprir as metas de cortes de emissões de carbono.
O Canadá se uniu, assim, aos Estados Unidos no grupo dos grandes países industrializados ausentes do Protocolo de Kyoto ; o ex-presidente americano, George W. Bush, se recusou a ratificar o tratado após ser empossado, em 2001, alegando ser injusto por não apresentar demandas a países emergentes, como Índia e China.
;Aberração;
A decisão gerou protestos internacionais. O porta-voz da chancelaria francesa, Bernard Valero, referiu-se ao anúncio como ;má notícia para a luta contra as mudanças climáticas;. A China, que é o maior emissor do mundo e concordou em aderir aos esforços para buscar um pacto contra o aquecimento em Durban, pediu ao Canadá para ;enfrentar suas responsabilidades e obrigações; e ;honrar seus compromissos;.
Alden Meyer, da União de Cientistas Preocupados, uma organização sediada nos Estados Unidos e que apoia ações contra as mudanças climáticas, afirmou que o Canadá é uma ;aberração; da tendência global. ;A decisão canadense não é uma surpresa, uma vez que (o país) já é visto como um transgressor climático internacional;, acrescentou Meyer.
Alguns especialistas, porém, duvidaram sobre o impacto da medida, afirmando que o Canadá responde por cerca de 2% das emissões globais de gases do efeito estufa, apontadas como responsáveis pelas mudanças climáticas, e que União Europeia e Japão se comprometeram a cumprir os compromissos de Kyoto.