Boas e más notícias vê da Filadélfia, nos Estados Unidos, sede do Encontro Anual da Sociedade Americana de Medicina Tropical e Higiene ; que debate, entre outros temas, a questão da malária. Pesquisadores de um consórcio liderado pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, anunciaram o desenvolvimento do primeiro Atlas da Malária, com tabelas e mapas sobre a situação da segunda doença mais incidente do mundo (atrás apenas da Aids), que leva à morte 1 milhão de pessoas por ano. Os dados revelam que a África, região que concentra cerca de 90% dos casos da doença, vem aumentando o controle do número de casos. O número de mortes caiu 20% nos últimos 10 anos. Por outro lado, a América Latina e o sudeste asiático são os novos locais de maior suscetibilidade da doença.
Outro dado apresentado pelo mapa da malária é a mudança no perfil do patógeno causador da doença. O Plasmodium falciparum, responsável pela forma mais grave, que pode inclusive levar à morte, começa a ser controlado, graças a inseticidas cada vez mais potentes e à ampliação no acesso ao tratamento dos doentes, especialmente no continente africano. O Plasmodium vivax, responsável pela forma reemergente da malária ; quando o parasita se aloja no fígado e, de tempos em tempos, faz com que o paciente reapresente os sintomas ;, vem se tornando uma ameaça cada vez mais importante, inclusive em regiões onde ele já tinha sido controlado, como a Índia.
Em entrevista ao Correio, o pesquisador Chris King, da Case Western Reserve University, nos Estados Unidos, explicou como, aos poucos, a epidemia global da doença vai ganhando novos contornos. ;As ações globais que incluíram educação da população e o uso de medicamentos mais eficazes e de inseticidas específicos vêm fazendo os novos casos desacelerarem e a doença se estabilizar;, explica. ;Apesar de os dados mostrarem grande desigualdade na reação à malária, praticamente todos os países apresentaram melhoras;, assegura.
Boas notícias
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), em todo o mundo, as mortes por paludismo ; como também é conhecido o mal ; caíram 20% entre 2000 e 2010. A África é a principal responsável pela queda. Enquanto o Marrocos conseguiu erradicar totalmente a doença, outros 11 países, entre eles Bostuana e Guiné Equatorial (dois dos recordistas de casos), reduziram em cerca de 30% as mortes devido à doença. A exceção no continente é o ;Chifre da África;, no nordeste do continente, onde países como Somália e Etiópia enfrentam uma onda de fome e a epidemia está próxima da estabilidade, mas ainda não começou a cair.
Em contrapartida, a América Latina e, principalmente, a Ásia preocupam como nunca os especialistas. No continente asiático, o forte crescimento populacional fez a doença reaparecer em algumas regiões. A Índia, por exemplo, registra mais de 10 milhões de novos casos a cada ano. Além do país, Indonésia e Mianmar também apresentam surtos da doença. ;Nessas regiões está acontecendo uma mudança no perfil. A malária já tinha sido banida da Índia e ressurgiu;, afirma King. Anteriormente tido como uma doença rural, o paludismo vem migrando para as megacidades, como a indiana Mumbai, que crescem em ritmo acelerado na região. ;Com a alteração no perfil de população, a doença também mudou;, completa.
Já na América Latina, as regiões de mata da Nicarágua e as florestas da América do Sul ainda enfrentam problemas para controlar a doença ; embora em menor grau, pois as regiões onde a malária ocorre são pouco povoadas. ;Apesar de a doença ocorrer em áreas pouco habitadas da Amazônia, o perfil do parasita torna a doença mais difícil de ser controlada;, conta King. Enquanto na África o principal causador do mal é o Plasmodium falciparum, na América do Sul o maior problema é o Plasmodium vivax, causador de uma forma não letal da doença, que, no entanto, pode se tornar crônica e incurável.
Essa é aliás, a nova grande preocupação dos especialistas. Até hoje, os grandes esforços globais foram concentrados na espécie falcípara. Por isso, a maioria das alternativas de combate ao problema não são eficazes contra a vivax. ;Uma pessoa com vivax pode ser responsável por múltiplas infeções de malária durante muitos anos em uma única comunidade;, conta Peter Gething, da Universidade de Oxford. ;Cada vez que o parasita se move a partir do fígado para o sangue, ele contribui para uma nova carga de transmissão da doença;, diz.
Para agravar a situação, uma condição genética conhecida como ;negatividade Duffy;, na qual o paciente tem deficiência da proteína G6PD, pode tornar os pacientes intolerantes à medicação contra o vivax. A região onde mais ocorre esse traço genético é a África. ;Esperamos que, com o mapeamento da prevalência de deficiência de G6PD, possamos fornecer evidências que contribuirão para determinar os riscos e benefícios do uso de primaquina, que é uma droga importante, mas potencialmente perigosa;, afirmou, em um comunicado, a especialista britânica Rosalind Howes, que também participa do projeto.
União por nova vacina
Três líderes globais na busca por uma vacina contra a malária anunciaram ontem que unirão forças para iniciar os testes em uma promissora substância, a Pfs25. A Iniciativa para a Vacina da Malária (MVI), o Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas dos EUA (Niaid) e a Johns Hopkins Bloomberg Escola de Saúde Pública e Pesquisa de Imunização (CIR) iniciarão o primeiro ensaio para testar a toxicidade da substância em humanos. Em testes de laboratório, a Pfs25 foi capaz de barrar o desenvolvimento do parasita no mosquito vetor, interrompendo o ciclo de transmissão. ;Esse é o primeiro passo no que é tipicamente um longo processo de avaliação. No entanto, estamos animados pelo potencial da vacina para limitar significativamente a propagação da infecção da malária;, afirmou Ashley Birkett, especialista da MVI.