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Ciência e Saúde

América Latina busca respostas frente às mudanças climáticas em Durban

BRASÍLIA - A América Latina, mais vulnerável aos eventos climáticos extremos que põem em risco seus imensos recursos naturais e agrícolas, busca respostas na conferência da ONU sobre mudanças climáticas iniciada esta semana em Durban, África do Sul. "Há um grande interesse na América Latina para que Durban produza resultados que ajudem a enfrentar as mudanças climáticas", disse à AFP Tim Gore, chefe de políticas climáticas da ONG Oxfam.

"Os países latino-americanos começaram a se preocupar em conseguir acordos que os ajudem ante o impacto destes eventos extremos, que estão aumentando e contribuem para a fome e a pobreza", acrescentou.

Os especialistas da área concordam. "A América Latina é muito vulnerável aos eventos climáticos extremos. Perdemos massas de gelo nos Andes, o que afeta a disponibilidade de água para a agricultura, (provoca) fortes temporais na América Central e inundações e secas de norte a sul", disse à AFP Carlos Rittl, coordenador no Brasil do Fundo Mundial para a Natureza (WWF).

Guatemala, Colômbia e Honduras lideraram, com Paquistão e Rússia, a lista de países mais afetados em 2010 por problemas climáticos graves, segundo o Índice de Risco Climático divulgado esta terça-feira em Durban.

A América Central, que enfrentou fortes temporais, decidiu levar uma posição conjunta em Durban para buscar "o reconhecimento da nossa realidade de alta vulnerabilidade climática", disse o ministro salvadorenho de Meio Ambiente, Herman Rosa Chávez.

A América Latina hoje é considerada uma das poucas regiões do mundo com disponibilidade de terras e água e onde a produção de alimentos pode aumentar significativamente.

Mas um estudo da Embrapa, instituto público de pesquisas agrícolas, advertiu para os impactos das mudanças climáticas em um país que em 2070 poderia perder 40% da produção de soja se nada for feito a respeito.

A América Latina também abriga grandes florestas e a Amazônia, a maior floresta tropical do planeta, que se espalha por nove países e tem um papel-chave na regulação do clima mundial, pois ajuda a regular a disponibilidade de água em praticamente toda a América do Sul e impede gigantescas emissões de carbono na atmosfera.

"Se você corta as árvores grandes e incendeia a floresta, a terra seca. O mundo deve ouvir o grito da terra que está pedindo ajuda", afirmou Davi Kopenawa, porta-voz dos indígenas ianomami na Amazônia brasileira.

Cento e noventa países se reúnem a partir desta semana em Durban para procurar acordos que ajudem o mundo a enfrentar as mudanças climáticas.

A maioria dos países latino-americanos coordenarão suas posições no âmbito do chamado Grupo 77 e a China, presidido pela Argentina e que reúne 132 países em desenvolvimento.

A principal meta do G77 é conseguir que os países ricos se comprometam a renovar o Protocolo de Kioto, o único acordo que os obriga a reduzir as emissões nocivas ao planeta e cuja vigência expira em 2012.

Também exigirão o financiamento do Fundo Verde criado na conferência do ano passado, em Cancún, para solucionar as necessidades dos países em desenvolvimento frente às mudanças climáticas.

"Aqueles que enriqueceram às custas do sacrifício do meio ambiente global devem agora assumir as responsabilidades que lhes cabe", disse José Arguello, negociador argentino que preside o G77.

O Brasil, maior emissor regional de gases causadores do efeito estufa, também se coordena com os grandes emergentes China, Índia e África do Sul.

Os países da Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba, formada por Cuba, Venezuela, Equador, Bolívia, Nicarágua, Antigua e Barbuda, Dominica, São Vicente e Granadinas) também defendem que haja maior ambição para enfrentar as mudanças climáticas.

No ano passado, a Bolívia foi o único país a se opor aos acordos, pedindo uma posição mais ambiciosa para enfrentar as alterações no clima, mas uma mudança na delegação sugira uma posição de menos confronto este ano.