A ladainha é sempre a mesma: alimentação saudável pode prevenir doenças. No entanto, mesmo que esse conselho seja repetido à exaustão ; e sempre acompanhado de abundantes comprovações ;, muitas pessoas parecem não dar a menor bola para hábitos alimentares saudáveis. Os adolescentes então, nem se fala. A quantidade de jovens que torcem o nariz para ingredientes verdes e relutam para comer frutas e legumes ainda é altíssima. Uma pesquisa feita em 2009 pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) constatou que 512 jovens, de 14 a 18 anos, apresentaram consumo inadequado das vitaminas A, C e E e dos minerais cálcio, magnésio e fósforo, todos importantíssimos para a manutenção dos órgãos e dos ossos ; e abundantes nos ingredientes saudáveis. De acordo com especialistas, a falta desses nutrientes pode ocasionar diversas doenças e o hábito de ingeri-los deve ser inserido pelos pais, os responsáveis pela alimentação da casa.
A pesquisa Prevalência de inadequação da ingestão de nutrientes entre adolescentes do município de São Paulo faz parte do Inquérito de Saúde de São Paulo e apontou que a ingestão inadequada é maior em famílias cuja renda familiar per capita é inferior a um salário mínimo. ;Se essa ingestão inadequada de nutrientes continuar a longo prazo, poderá levar a um risco aumentado para o desenvolvimento de câncer, doenças cardíacas e osteoporose. Essa constatação, entretanto, não é motivo para a suplementação vitamínica e sim para a adoção de uma dieta equilibrada, com a presença de frutas e vegetais;, afirmou o autor do estudo, o nutricionista Eliseu Verly Junior, à Agência USP.
Segundo a nutricionista da Amil Pollyanna Ayub, a deficiência de vitaminas e minerais em adolescentes é causada, principalmente, por pular ou trocar as refeições. ;Por querer dormir um pouco mais, o jovem pula o café da manhã, momento em que a ingestão de lacticínios ricos em cálcio é maior;, acredita. Já nas principais refeições, o problema é ocasionado pela substituição dos pratos que devem ser abundantes em legumes, verduras, carboidratos e proteínas por lanches e fast foods. ;O mesmo ocorre em outras refeições e, por não ingerir esses nutrientes, a pessoa acaba ficando com deficiência;, considera.
A nutricionista Mariana Del Bosco conta que, para todas as vitaminas e minerais existentes, há uma recomendação de consumo, que muda de acordo com a faixa etária. Ela explica que, na infância e na adolescência, essa orientação leva em conta a quantidade necessária para garantir o adequado crescimento e desenvolvimento. ;A determinação da necessidade é baseada na média da população. Alguns indivíduos, de uma forma ou de outra, conseguem ter mais absorção ou armazenar com mais eficiência essas substâncias;, acrescenta.
Ela destaca, contudo, que, quando constatada a deficiência desses elementos na alimentação, sinais clínicos podem aparecer ; como no caso da hipovitaminose A, por exemplo, que pode comprometer a visão, causando cegueira noturna, além de comprometer a integridade da pele, aumentando o risco de infecções. ;Já a deficiência de vitamina C, que quase não vemos mais atualmente, contribui para o escorbuto. A de magnésio e cálcio compromete a formação óssea e pode causar osteomalácia e raquitismo em crianças;, alerta.
Questão de gosto
O adolescente Matheus Porto, 14 anos, não gosta de legumes, frutas e verduras. Adepto da alimentação junk food, o garoto se restringe basicamente ao tomate ; quando muito, come as verduras presentes no prato de origem chinesa yakisoba (também muito comum na cozinha japonesa). ;Não como porque não gosto do gosto;, diz. O pai do garoto, André Porto, conta que não se preocupa muito, porque Matheus consome os outros alimentos muito bem. ;De manhã, ele come cereais com leite, que fazem bem. Já os fast foods eu seguro um pouco, não deixo comer sempre;, diz.