Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Tribunal dos EUA autoriza empresa a patentear genes do câncer de mama

Washington - Um tribunal federal de apelações dos Estados Unidos decidiu nesta sexta-feira em uma decisão histórica autorizar uma empresa a patentear genes relacionados com o câncer de mama. A decisão, que ratificou a decisão anterior de um tribunal inferior, permite à empresa Myriad Genetics de Utah (sudoeste) manter sua patente de genes isolados, apesar das queixas dos grupos de direitos humanos, que dizem que isso cria um monopólio injusto e limita as opções de saúde da mulher.

No entanto, a decisão, de dois votos a um, indicou que a empresa não pode patentear certos processos para comparar ou analisar sequências de DNA, por considerá-los "processos mentais abstratos".

A ação foi apresentada em 2009 por uma coalizão de apoio a pacientes e grupos médicos, representados pela Associação Nacional para a Defesa dos Direitos Civis (ACLU).

Os demandantes tinham argumentado que a companhia reclamava um "monopólio ilegal sobre produtos da natureza, leis da natureza e/ou fenômenos naturais, e ideias abstratas ou conhecimento humano básico ou pensamento". Contudo, a Corte de Apelações de jurisdição federal dos Estados Unidos decidiu que este tipo de patentes de moléculas de DNA isoladas podem ser mantidas, de acordo com a "prática de longa data" do Escritório de Patentes e Marcas, um dos acusados.

"A Suprema Corte declarou diversas vezes que as mudanças na prática de longa data devem vir do Congresso, não dos tribunais", disse a decisão.

Com o apoio da companhia farmacêutica Eli Lilly, Myriad obteve patentes americanas na década de 1990 em dois genes - BRCA1 e BRCA2 - fortemente associados a formas hereditárias de câncer de mama e ovário nas mulheres.

Os cientistas estimam que cerca de 10% dos cânceres de mama são hereditários. As mulheres que portam o gene BRCA1 correm um risco 10 vezes maior de contrair a doença aos 70 anos.

As patentes conseguidas pela Myriad significam que a companhia detém "o direito exclusivo de realizar testes com os genes BRCA1 e BRCA2, e pode impedir que qualquer pesquisador sequer olhe para os genes sem primeiramente conseguir uma permissão da Myriad", informou Associação Nacional para a Defesa dos Direitos Civis.