Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Distribuição geográfica das cidades influência o aumento da violência

Goiânia (GO) ; Redução da violência não é assunto apenas para a polícia. É também coisa de político, cidadão, arquiteto e cientista. É o que afirmam estudiosos sobre o tema que participaram do simpósio Violência urbana, realizado ontem como parte da programação da 63; Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Segundo os especialistas, o entendimento da violência vai muito além do que a força policial é capaz de fazer, e envolve desde questões urbanísticas ; como a forma com que os bairros são construídos ; até preconceitos e estereótipos presentes na sociedade. Para eles, a violência só será controlada quando seu combate passar a envolver ações que incluam toda a população, e não apenas vítimas e criminosos.

Segundo a socióloga da Universidade de Brasília (UnB) Maria Stela Grossi Porto, questões que não têm ligação direta com a falta de segurança são, na verdade, preponderantes para o seu desenvolvimento. É o caso, por exemplo, de regiões onde existe uma percepção da população de ausência do Estado. ;Quando há um vazio administrativo, esse vazio precisa ser ocupado por algo, que muitas vezes é a violência;, afirma. Como exemplo, ela usa o Entorno. ;Embora, legalmente, seja uma região integrante de Goiás, economicamente ela depende do Distrito Federal. A percepção da população é, no entanto, que nenhum dos dois governos se ocupa da região. A sensação da ausência de poder brasiliense e goiano abre uma lacuna que possibilita a instalação da violência;, afirma.

Outro ponto que estimula manifestações violentas é a própria sensação que as pessoas têm dela. ;Imaginar que um lugar é violento tem um impacto grande sobre as políticas para a violência e no estabelecimento de criminosos naquela região;, afirma Michel Misse, pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Assim, o fato de a sociedade acreditar que determinados eventos de violência ocorrem em pontos específicos das cidades pode promover mais ações policiais ou fazer com que as pessoas evitem circular por aquela região. ;O problema é que nem sempre essas impressões condizem com a realidade, criando mitos e preconceitos com alguns espaços e com pessoas originárias deles;, analisa.

Falsas noções
A estrutura do Distrito Federal, segundo os pesquisadores, representa de maneira importante os preconceitos em relação à segurança. ;A estrutura contrastante da cidade, que tem um núcleo muito particular e uma periferia distante, cria em muitas pessoas a noção de que o Plano Piloto é seguro, e que o simples fato de andar em uma cidade-satélite pode resultar num episódio de violência, como um assalto e um roubo;, afirma Maria Stela, para quem esse tipo de crença aprofunda os preconceitos e a própria violência. ;Esse não é um problema exclusivo de Brasília. Outras cidades, em especial aquelas que são geograficamente bem divididas, como Fortaleza, esse problema é muito intenso;, completa o pesquisador da Universidade Federal do Ceará (UFC) César Barreira.

Para os pesquisadores, a solução para o problema está no envolvimento de toda a população nas questões de violência. ;No norte do país, vem crescendo nas cidades a ação de pistoleiros, que era uma questão muito mais presente no campo. Problemas que poderiam ser resolvidos com o diálogo passaram a ter a violência como solução;, diz o pesquisador cearense. ;Se houvesse mais espaços onde as políticas e os eventos relacionados à violência fossem debatidos, certamente os preconceitos que criam ambientes mais propícios à violência poderiam ser eliminados;, opina a socióloga Maria Stela Grossi.