Quasares são os objetos mais brilhantes do Universo. Além da beleza, despertam a atenção dos astrônomos e cosmólogos porque, encontrados nas galáxias distantes, podem fornecer boas pistas sobre a origem das estrelas. Produzindo uma energia 10 trilhões de vezes mais potente que a do Sol, eles emitem fortes ondas de rádio e, nas lentes de um telescópio comum, podem se parecer com uma estrela. Graças aos instrumentos mais sofisticados, porém, hoje não só se observa o quasar como ele realmente é, mas se viaja no tempo: um artigo publicado na edição de hoje da revista especializada Nature descreve o mais antigo quasar já capturado por um telescópio.
O Gemini e o Very Large Telescope (VLT), considerados os mais poderosos instrumentos de observação espacial da Terra, localizados, respectivamente, no Havaí e no Chile, encontraram no Universo primordial um quasar formado apenas 770 milhões de anos depois do big bang, a espécie de explosão que deu origem ao Cosmos. Considerando que a idade do mundo é cerca de 13,7 bilhões de anos, quando esse objeto nasceu, o Universo era um ;bebê;.
Ele pertence a uma época particularmente interessante, lembra o astrônomo Chris Willott, do National Research Council, no Canadá. Ao escrever um comentário para a Nature sobre a descoberta, o especialista afirma que o quasar nasceu na era da reionização cósmica. Para entender o que isso significa, é preciso voltar mais ainda no tempo. Trezentos e oitenta mil anos depois do big bang, o Universo era uma ;sopa; de plasma em resfriamento. A aparência do Cosmos, formado por hidrogênio neutro, era turva, como se uma neblina tomasse conta de tudo. Mas prótons e elétrons, antes soltos e desorganizados, começaram a se unir, formando os átomos e, consequentemente, a matéria. Como diz o livro bíblico do Gênesis, nesse momento, ;fez-se a luz;.
A claridade chegou por meio dos quasares, cujo nome é uma abreviação de ;fonte de rádio quase estelar;. Com seu brilho extraordinário, esses objetos deixaram o Universo transparente. O hidrogênio neutro, absorvendo a luz, transformou-se em prótons e elétrons. O Cosmos atingiu a aparência que tem hoje, e o quasar flagrado pelos telescópios VLT e Gemini estava presente nesse exato momento. Antes dele, o mais antigo observado era 100 milhões de anos mais velho. Segundo os autores do artigo, liderados por Daniel Mortlock, do Imperial College London, entender o que houve nesse intervalo significa explorar uma era cosmológica ainda muito pouco conhecida. ;Para estudar esse período, será importante encontrar outros quasares com desvio para o vermelho acima de 7 e abaixo de 10;, comenta Willott. O desvio para o vermelho refere-se ao comprimento de onda e, quanto maior, mais antigo é um objeto celeste. ;Isso será possível com os futuros telescópios infravermelhos espaciais;, aposta. (PO)