Reza a lenda que Dona Beja foi um das mulheres mais bonitas do Brasil Império. A mítica loira, filha de uma índia, que encantou homens na região de Araxá, interior de Minas Gerais, virou nome de livro, personagem de novela e ganhou um status quase folclórico na história do Brasil. Agora, 138 anos depois de sua morte, o paradeiro de Ana Jacinta de São José ; nome de batismo daquela que ficou conhecida como Dona Beja, em referência a uma flor do Cerrado ; pode estar próximo de ser desvendado.
Em um antigo cemitério em Estrela do Sul, cidadezinha mineira de pouco mais de 7 mil habitantes, onde ela teria sido enterrada, foram encontrados ossos que muito provavelmente pertenceram à celebre cortesã e líder política. O achado é a mais nova polêmica a cercar uma mulher que, por sua posição política e pelo comportamento social, marcou a primeira metade do século 19.
Os ossos foram encontrados por acaso. Durante a obra para a construção de um chafariz, na praça central da cidade, um dos pedreiros achou objetos que se pareciam com ossos. Registros históricos mostram que até 1925 funcionou no local um cemitério, onde Ana Jacinta teria sido enterrada. Os mesmos registros garantem que a família de Beja decidiu não transferir os restos mortais da célebre mineira quando o cemitério foi desativado, no início do século passado.
Além de ser uma das poucas remanescentes do antigo cemitério de Estrela do Sul, outro indício liga a célebre mineira aos ossos encontrados essa semana. Em meio ao material desenterrado, também foram achados restos de zinco. Conta a história que, em 1853, Beja deixou Araxá, onde foi criada e viveu sua juventude, para comandar uma mina de diamantes, na região de Bagage, hoje Estrela do Sul. Quando morreu, em 1873, ela pediu que seu caixão fosse adornado com enfeites de zinco, justamente o material encontrado junto aos ossos ; e, na época, algo muito pouco comum.
Essa não é a primeira vez que os restos mortais de Ana Jacinta criam polêmicas nas pequenas cidades do Alto Paranaíba, região distante cerca de 450km da capital do estado, Belo Horizonte. Em 1996, a prefeitura de Araxá propôs a busca pelas ossadas ; as que supostamente foram encontradas agora ; à prefeitura de Estrela do Sul. No entanto, uma briga entre os dois municípios, sobre qual deles abrigaria os restos quando fossem encontrados, impediu que o empreendimento fosse a diante.
Agora, pesquisadores devem fazer exames mais detalhados para saber se trata-se mesmo de Beja ou se essa será apenas mais uma polêmica dentre tantas que permeiam a história da mítica mulher mineira.