Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Pesquisadores brasileiros mudam a tonalidade e multiplicam o preço de gemas

Belo Horizonte ; Lembra a alquimia, prática não científica famosa pela pretensão de transformar metais de menor valor em ouro. No entanto, trata-se de ciência pura. Pedras como quartzos, ametistas e rublitas, entre outras, ganham cores mais vivas em laboratórios brasileiros graças a um processo de irradiação com raios gama e têm seu preço de venda multiplicado. Assim, pedras que são encontradas na natureza ;pálidas; se transformam em mercadorias que atraem compradores até no mercado externo. O beneficiamento é capaz de fazer com que o valor de 1kg de gema suba de R$ 10 para até R$ 900.

No Brasil, existem cinco laboratórios que fazem esse tipo de trabalho ; três em São Paulo, um no Rio de Janeiro e outro em Minas Gerais. O Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), com sede em Belo Horizonte, é uma importante referência no setor, realizando a intervenção nos minerais desde 2002. O Projeto Corgema, coordenado pelo CDTN em parceria com entidades como a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), tem o objetivo de desenvolver a indústria de joias, contemplando desde o pequeno garimpeiro até o exportador.

O professor Fernando Lameiras, físico e pesquisador do CDTN, explica que o bombardeio dos cristais é feito com raios gama, a partir de um reator nuclear. ;A cor de uma gema se dá a partir dos elementos químicos que a formam e da irradiação solar. O bombardeio pode ser entendido como a aceleração de um processo natural que levaria milhões de anos para ocorrer. O principal objetivo da intervenção é agregar valor ao mineral;, defende. Daí a cor não ser definida pelos pesquisadores, mas sim a partir dos elementos químicos dos quais a pedra é constituída. Para 1kg de gemas, o preço por dose de irradiação custa, em média, R$ 20. O tempo de exposição necessário para colorir a matéria-prima é variável.

Lameiras conta que existem outras tecnologias com o mesmo objetivo de agregar valor às pedras, como as técnicas de resinar e de coloração química. No entanto, a tecnologia empregada no CDTN tem sido a mais usada em gemas das famílias de quartzos, berilos, topázios, turmalinas e espodumênios. ;Geralmente, a escolha depende da característica e finalidade da gema. Os processos não são concorrentes. Pelo contrário, muitas vezes até se complementam.;

O centro também presta um serviço inédito no Brasil: com tecnologia própria, pesquisadores identificam todos os elementos químicos presentes em cada tipo de mineral e preveem se aquela gema poderá ser submetida a beneficiamentos com sucesso, evitando, assim, investimentos desnecessários. Uma unidade de inovação tecnológica com laboratório capaz de prestar esse serviço de análise acaba de ser implantada no município de Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri (nordeste do estado). O próximo desafio é criar um mecanismo de avaliação portátil que poderá ser usado em cidades distantes dos centros urbanos, para avaliar se a extração mineral é justificada ou não.

Raimundo Viana, presidente do Sindicato das Indústrias de Joalherias, Ourivesarias, Lapidações e Obras de Pedras Preciosas, Relojoarias, Folheados de Metais Preciosos e Bijuterias de Minas Gerais (Sindijoias), ressalta a importância do emprego da tecnologia em prol do desenvolvimento desse mercado. ;O Brasil é um país mundialmente reconhecido pela grande diversidade de suas gemas coloridas (mais de 150 espécies), localizadas em províncias minerais situadas principalmente em Minas ; considerada a maior província gemológica do mundo ;, além de Goiás, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Bahia e Pará. Tamanha oferta justifica os investimentos no desenvolvimento do setor;, diz.

Segundo ele, a avaliação de uma gema segue o critério dos quatro Cs, sendo a coloração um dos destaques. ;Para se estabelecer o valor de uma gema em particular, devem ser observados, além da sua raridade e beleza, quatro fatores: tamanho (carat), cor (color), pureza (clarity) e lapidação (cut). No Brasil, o mercado tem valorizado muito os diversos tipos de turmalina, os quartzos rutilados, o topázio-imperial, as esmeraldas e as águas-marinhas, entre outras.;

Alavanca para a indústria
A tecnologia da irradiação é usada no Brasil desde os anos 1920, como explica o professor e pesquisador do Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear Fernando Lameiras. No entanto, somente nas últimas duas décadas, a partir do emprego do design para o desenvolvimento da indústria joalheira, fabricantes nacionais têm optado pelo investimento em pedras mais baratas. ;Nesse caso, a gema serve ao design e não o contrário.; Para Raimundo Viana, o uso de gemas de menor valor como os cristais citrino e a ametista, é uma forma de preservar o preço das joias num patamar acessível ao consumidor brasileiro. Ele ressalta ainda que o fato de os designers nacionais estarem usando gemas coradas em grande escala tem diferenciado e impulsionado a indústria joalheira no Brasil e no mundo, com o reconhecimento por meio de diversos prêmios. Dessa forma, a qualidade e o design nacional das joias, além de contribuir para a maior competitividade dos produtos, têm divulgado a identidade cultural do país.

Os critérios de avaliação de uma gema


Tamanho (carat)
Uma gema de 1 quilate (200mg, ou seja, 1/5 do grama), por exemplo, sempre valerá mais que duas de meio quilate com
a mesma qualidade

Cor (color)
Em princípio, quanto mais escura a cor, mais valiosa a gema. A turmalina verde é uma exceção, e o diamante, a menos que tenha cor bem definida, é tanto mais valioso quanto mais incolor for. É importante também que o tom seja uniforme

Pureza (clarity)
A ausência de impurezas e fissuras é sempre desejável. Esmeraldas, porém, só se mostram puras em gemas muito pequenas, pois é normal que sejam cheias de fraturas, preenchidas por impurezas

Lapidação (cut)
Gema de boa cor e pureza pode ter seu preço diminuído se não for bem lapidada. Isso é particularmente importante no caso do diamante, que tem no brilho uma característica importante