Belo Horizonte ; Resistente, flexível, leve e renovável, o bambu, visto como a promessa da engenharia do século 21, tem tudo para se firmar como alternativa à madeira e contribuir para uma arquitetura mais sustentável. Usado há milênios na construção de casas, principalmente na Ásia, esse vegetal só despertou o interesse dos cientistas brasileiros nos últimos 30 anos. Apesar do baixo custo e de ter grande potencial de uso na engenharia civil, o bambu ainda é usado no país quase que exclusivamente em construções temáticas e de luxo.
Pesquisador desse recurso há mais de 20 anos, o professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Luís Eustáquio Moreira não tem dúvidas sobre o potencial do material. ;O bambu é um material rústico, mas de qualidade. Se tratado adequadamente, ele pode apresentar uma durabilidade de cerca de 15 a 20 anos, a depender da região, do clima, da temperatura e da umidade do local. Além disso, é bastante resistente e responsável ecologicamente;, ressalta.
De crescimento rápido ; em três anos, está pronta para o corte ; essa gramínea chama a atenção não só pela beleza: sua resistência e leveza também surpreendem. Moreira observa que um tubo de 6m de comprimento, com 10cm de diâmetro, pesa cerca de 12kg. ;Essa característica o torna fácil de ser manipulado;, ressalta o engenheiro.
Ele defende o uso do material como forma de contribuir para o crescimento de regiões e comunidades menos desenvolvidas, por meio de sua aplicação na chamada arquitetura efêmera ; representada por estruturas temporárias, como acampamentos para abrigar pessoas atingidas pelas chuvas. ;É um material que sugere possibilidades para a construção de estruturas de emergências por sua resistência, leveza e disponibilidade nas imediações das cidades;, afirma o professor, ponderando que, apesar de tantos fatores positivos envolvendo o material, seu uso em larga escala esbarra na falta de mão de obra especializada para seu manejo.
Também são escassos no país, segundo Moreira, produtores de bambu. As grandes plantações estão concentradas apenas em São Paulo e no Rio de Janeiro, sendo que a maioria da extração ainda é nativa. ;Não temos plantações de bambu para atender uma demanda em grande escala e é importante que a gente motive essa produção. É possível que o próximo edital do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) contemple a plantação em parceria com Minas Gerais, como ocorreu com o eucalipto;, aposta.
Teste para as estruturas de grande porte
Com o crescente interesse por projetos arquitetônicos sustentáveis, a utilização do bambu pode ser ampliada, uma vez que se trata de um material renovável e que rapidamente alcança o tamanho de corte. Além disso, em uma pequena área de plantação, grande quantidade pode ser colhida.
O professor Luís Eustáquio Moreira coordena na UFMG o projeto Estruturas acessíveis de bambu: concepção, análise e implementação, pioneiro do tipo no país a receber financiamento do CNPq. Ao projeto, iniciado em 2008, foram destinados recursos de R$ 180 mil. A iniciativa conta com a colaboração da PUC-Rio e do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet-MG).
Até o fim deste ano, os resultados dessa pesquisa devem ser apresentados à sociedade. Além de estudar maneiras simples e baratas para a aplicação do bambu, um dos objetivos é aumentar a resistência de estruturas como mastros para tendas e passarelas. A capacidade dessas estruturas de suportar condições reais de peso, vento, deslocamento lateral e outros parâmetros da engenharia estão sendo testadas. A intenção é criar sistemas que integrem o bambu a cabos de aço e cabos sintéticos, nunca usados para estruturas de grande porte.
Patente
Duas patentes foram registradas no ano passado, em âmbito nacional, com intermediação da Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT) da UFMG. Um dos produtos é a conexão nervurada para tubos de bambu. Uma nervura à base de tecido prepara o tubo de bambu para receber anéis metálicos ou amarrações, o que permite fazer conexões na parte externa sem a necessidade de furos. ;É como se você pusesse dois nós dentro dele e, por dentro, pudesse amarrar alguma coisa;, explica Luís Eustáquio.
O segundo produto é a barra de bambu de esterilha colada, que pretende oferecer alternativa mais simples, rústica e barata às barras de bambu laminado colado. Com ela, podem ser construídas vigas. Segundo o professor da UFMG, no caso dessa barra, sua produção exige que o tubo seja aberto para a retirada do interior do material, de qualidade inferior. O bambu aberto forma esteiras, que são empilhadas e coladas. ;É como uma tábua que, empi-lhada, forma uma viga. É possível fazer a cobertura de uma casa com tudo isso;, diz, empolgado. (AM)