Washington - As pessoas com inclinações políticas liberais têm cérebros estruturalmente diferentes dos conservadores, revelou nesta quinta-feira um estudo divulgado na revista especializada Current Biology.
Os liberais têm mais matéria cinzenta em uma região do cérebro associada à compreensão da complexidade, enquanto que o cérebro dos conservadores é maior na região vinculada ao processamento do medo, indicou o estudo. "Concluímos que um maior liberalismo estava associado a um maior volume de massa cinzenta na circunvolução do cíngulo anterior do córtex cerebral, enquanto um maior conservadorismo associa-se a um volume maior da amígdala cerebral direita", afirmou o estudo.
Outra pesquisa mostrou que há uma maior atividade cerebral nessas áreas, de acordo com a postura política da pessoa, mas se trata do primeiro estudo a mostrar uma diferença física no tamanho das mesmas regiões. "Anteriormente, sabia-se que alguns traços psicológicos poderiam predizer a orientação política de um indivíduo", disse Ryota Kanai, da Universidade College London, onde a pesquisa foi realizada. "Nosso estudo agora vincula esses traços da personalidade com estruturas cerebrais específicas".
O estudo baseou-se em 90 "adultos jovens saudáveis" que classificaram sua postura política em uma escala de um a cinco, de muito liberal a muito conservador, e que depois concordaram em ter o cérebro escaneado. As pessoas com uma amígdala cerebral maior são "mais sensíveis ao desgosto" e tendem a "responder a situações ameaçadoras com mais agressividade que os liberais, além de serem mais sensíveis a expressões faciais ameaçadoras", afirma o estudo.
Os liberais, por outro lado, estão vinculados a uma maior circunvolução do cíngulo anterior do córtex cerebral, uma região "que controla a incerteza e os conflitos", disse. "Portanto, é concebível que os indivíduos com uma maior circunvolução do cíngulo anterior tenham mais capacidade de tolerar a incerteza e os conflitos, o que lhes permite ter pontos de vista mais liberais".
No entanto, ainda não se sabe se as desigualdades estruturais causam as diferenças nos pontos de vista políticos ou se ocorre o contrário, ou seja, são efeitos destes últimos.
O fato é que os pontos de vista políticos parecem girar em torno da forma com a qual as pessoas reagem ao medo. "Nossos resultados são coerentes com a proposta de que a orientação política associa-se aos processos psicológicos que controlam o medo e a incerteza", afirmou o estudo.