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Ciência e Saúde

Messenger entra na órbita de Mercúrio e ajudará a entender Sistema Solar

Depois de viajar por mais de seis anos, a sonda espacial Messenger se tornou o primeiro objeto criado pelo homem a entrar na órbita de Mercúrio. O feito ocorreu exatamente às 23h de quinta-feira (horário de Brasília). Voando a uma altitude mínima de 200km do solo, nos próximos 12 meses, a nave não tripulada da Nasa deve enviar informações sobre o planeta, o mais próximo do Sol (46 milhões de quilômetros) e um dos menos conhecidos pelo homem. Essa é a primeira missão a Mercúrio desde 1975, quando a sonda americana Passenger-10 se aproximou dele, sem, no entanto, orbitá-lo.

Lançada em 3 de agosto de 2004, a nave percorreu perigosos 155 milhões de quilômetros até seu destino. ;Ela precisou fazer seis voos planetários rasantes, cinco manobras no espaço profundo e a inserção final na órbita, que queimou 600 dos 1.100kg que a compunham;, conta Peter Bedini, pesquisador da Universidade John Hopkins, parceira da agência espacial norte-americana no projeto. ;Para suportar as altas temperaturas da região, um para-sol de cerâmica foi desenvolvido para proteger o corpo da sonda, e painéis solares foram criados para operar em ambiente extremo;, completa Bedini, em entrevista ao Correio.

Nos próximos dias, o equipamento deve enviar as primeiras imagens da superfície do planeta. O satélite coletará dados sobre a composição e estrutura da crosta de Mercúrio, sua história geológica, a natureza da sua magnetosfera e de sua fina atmosfera. ;Além da composição de seu núcleo e os materiais que se acumulam perto dos seus polos;, completa o especialista. Para isso, a sonda carrega sete instrumentos e uma experiência científica relacionada a ondas de rádio.

Uma das dificuldades de explorar Mercúrio, além da distância da Terra, é a sua atmosfera de temperaturas extremas. Durante o dia, a temperatura fica em torno dos 600;C, caindo à noite para 200;C negativos. ;Em função de sua dimensão pequena e da proximidade com o Sol, até pouco tempo acreditava-se que ele não possuía atmosfera. Com o tempo, provou-se que ele possui uma atmosfera muito rarefeita, composta principalmente de hélio e oxigênio, que não consegue reter o calor durante a noite;, explica Élio Jaques Rocha Pinto, professor de astronomia do Observatório Valongo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Ferro

Apesar de inóspito, o planeta tem um grande potencial mineral. Quando ocorreu a formação dos planetas, aqueles ricos em partículas de ferro, mais pesadas, foram atraídos para mais perto do Sol. Já aqueles com uma composição menos rochosa, como Júpiter e Saturno, onde há oxigênio e silício, posicionaram-se mais longe da estrela. ;Cerca de 50% de seu volume é composto de um núcleo à base de ferro;, conta Rocha Pinto. Na Terra, esse percentual é de 16%, e na Lua, que possui dimensões semelhantes às do planeta, esse percentual cai para 4%.

Mercúrio, Vênus, Terra e Marte são planetas rochosos, sendo que o primeiro é o menor, o mais denso, com a superfície mais velha, com as maiores variações diárias de temperatura e o menos explorado. ;Entender esse ;membro final; entre os planetas rochosos é essencial para desenvolver uma melhor compreensão de como os planetas em nosso Sistema Solar se formaram e como evoluíram;, justifica Peter Bedini.

Confira vídeo de animação da Nasa