O que faz do homem um homem e não um chimpanzé? Desde que o mapeamento genético permitiu descobrir que somente 0,6% do DNA separa as duas espécies, os cientistas buscam pistas no código da vida que ajudem a desvendar em que, exatamente, seres humanos e demais primatas superiores se diferenciam. Um grupo internacional de pesquisadores afirma, na revista especializada Nature desta semana, que conseguiu responder à questão.
De acordo com eles, não é um elemento a mais na composição genética do homem que o tornou o ;rei dos mamíferos;. Ao contrário, a falta de pequenas peças reguladoras do DNA é que faz do ser humano um animal tão diverso dos demais. Um dos pesquisadores, Gill Bejerano, diz que desvendar essa e outras peculiaridades pode ajudar a entender, exatamente, o que significa ser humano. ;Até agora, muitos geneticistas evolucionistas têm se focado mais na diferença dos genes do que nas regiões que regulam esses genes;, conta o professor de evolução biológica, em entrevista ao Correio. ;Mais do que procurar por diferenças, genes ou mesmo regiões genômicas específicas dos humanos, nos perguntamos: ;Existem elementos genéticos funcionais no genoma do chimpanzé que faltem completamente no DNA do homem?;. Descobrimos que centenas de localidades do genoma do chimpanzé, até onde pudemos verificar, não existem na nossa espécie;, completa.
O antropólogo Philip Reno, professor da Universidade de Penn State, que participou do estudo, explica que, para identificar essas regiões, os cientistas utilizaram métodos de sequenciamento por computador. ;A tecnologia nos permitiu investigar a fundo o genoma de humanos e de outros mamíferos para encontrar áreas que são únicas no homem. Agora podemos correlacionar essas informações com características humanas específicas;, explicou ao Correio.
Órgão sexual
Uma das peculiaridades, destacam os autores, está no pênis. Em muitos mamíferos, o órgão é recoberto por uma camada epitelial queratinizada, formando espinhos. ;Graças a Deus, o pênis humano não é assim;, brinca Bejerano. ;Essa diferença se deve ao fato de que, no processo de evolução, perdemos o decodificador de um gene (relacionado aos receptores do andrógino, o hormônio masculino);, explica.
;A morfologia peniana simplificada tende à associação com estratégias reprodutivas monogâmicas em primatas. A falta de espinhos diminui a sensibilidade táctil e aumenta a duração da penetração, indicando que sua perda, na linhagem humana, pode estar associada à maior duração da cópula na nossa espécie, comparando-se aos chimpanzés;, diz o estudo. ;Geralmente, pensamos que o tamanho do cérebro e a posição bípede são as características-chave que nos fazem humanos. Mas outra diferença é o comportamento sexual;, esclarece Philip Reno.
O pesquisador conta que outra área onde genes não codificadores existem apenas nos chimpanzés encontra-se perto de um gene supressor de tumores, que se expressa no cérebro. ;Durante o desenvolvimento dos mamíferos, muitos neurônios morreram no processo de formação do cérebro. A falta da sequência que regula a expressão desse gene levou à morte das células e ao aumento do tamanho do órgão;, afirma Reno.