Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Pesquisa sustenta que amamentação exclusiva deve parar aos 4 meses

[FOTO1]Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o leite materno deve ser o único alimento ofertado para os bebês nos seis primeiros meses de vida. Para a instituição, apenas após meio ano de vida é que devem ser introduzidos outros alimentos, como frutas e papinhas. No entanto, um estudo realizada por pesquisadores da University College, do Reino Unido, questiona a exclusividade da amamentação pelo período advogado pela OMS e sustenta que o ideal é que a inclusão de novos alimentos na dieta dos pequenos ocorra já a partir dos 4 meses. Isso ajudaria a prevenir problemas de saúde, como a deficiência de ferro. A proposta reacende a discussão sobre quando devem ser oferecidas outras formas de alimentação para os bebês.

No estudo, os especialistas britânicos cruzaram dados relacionados ao aleitamento materno e à incidência de diversas doenças. Segundo a pesquisa, as crianças que a partir dos 4 meses consomem alimentos semissólidos, como frutas amassadas e cremes, apresentaram índices menores de doença celíaca. Além disso, a deficiência de ferro, mal bastante comum em crianças que ainda não ingerem outras formas de alimentação, praticamente não ocorre com a alimentação semissólida.

A pesquisa partiu da divergência entre a recomendação da OMS, que afirma que no primeiro meio ano de vida só se deve tomar o leite materno, e da Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA, na sigla em inglês), que recomenda apenas quatro meses de aleitamento exclusivo.

De acordo com a líder do estudo, Mary Fewtrell, a pesquisa propõe que os pais ponderem os prós e os contras da introdução de outros alimentos antes de tomar essa decisão. ;Se, por um lado, o aleitamento exclusivo por mais tempo diminui a chance do desenvolvimento de infecções, por outro, a deficiência de ferro, a doença celíaca e alergias podem ser prevenidas com o ;reforço; na alimentação logo aos quatro meses;, explica, em entrevista ao Correio. Para ela, os pais devem ponderar qual a melhor relação custo-benefício na saúde de seus filhos. ;Assim, se os pais viverem em regiões como o Reino Unido, onde alergias e falta de ferro são um problema, indicamos a alimentação semissólida aos 4 meses, mas, se na região onde a criança viver o problema maior for infecções, então apoiamos os pais a manterem apenas o leite até os 6 meses;, pondera Mery.

No Brasil
Apesar dos resultados apresentados pela pesquisa europeia, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) mantém a recomendação da amamentação exclusiva até os 6 meses. Para a pediatra Keiko Teruya, diretora de Aleitamento Materno da SBP, vale a recomendação da OMS. ;Pesquisas mostram que o leite materno consegue sim suprir as necessidades do bebê no primeiro meio ano;, diz. ;Assim, continuam mantidas as determinações da OMS e do Unicef, que afirmam que a alimentação vinda da mãe deve ser a única e exclusiva forma de alimentação dos bebês nesse período;, completa.

A pediatra pondera, no entanto, que, em algumas situações, podem haver exceções. Sempre com a orientação de um médico, pode-se determinar a adição de alimentos ricos em ferro, nos casos em que o bebê nasceu prematuramente, por exemplo. ;Isso também pode ser indicado quando a mãe não conseguiu a licença-gestação de seis meses, uma realidade ainda infelizmente bastante comum ;, conta a especialista da SBP.

É o caso de Jackeline Nunes Barbosa, 25 anos. A mãe de primeira viagem deve deixar o pequeno Hiago, de 4 meses, em casa para voltar aos estudos. Sem a possibilidade de manter o aleitamento exclusivo, a estudante começou esta semana a introduzir outras forma de alimentação. ;Busquei um alimento em pó específico para bebês, porque me disseram que é o mais parecido com o leite materno;, conta a mãe, que avalia o aleitamento no peito ainda como a melhor forma de nutrir o filho.

A estratégia é uma tentativa de facilitar a adaptação para a nova, realidade que o bebê deve enfrentar. ;Ele mama muito, então acho que se eu deixasse para dar o leite em pó de uma vez ele sentiria muito, por isso optei por ir substituindo aos pouquinhos para ele se acostumar;, afirma Jackeline. ;Estou dando uma vez por dia há dois dias e vejo que o intestino dele não está funcionando tão bem quanto antes", conta a mãe, que pretende continuar a amamentar Hiago quando não estiver estudando.

Independentemente do momento ideal para a introdução de outros alimentos, especialistas ; tanto do Reino Unido quanto do Brasil ; são unânimes ao defender que o leite materno deve ser mantido até os 2 anos, como recomendam todos os organismos internacionais. ;Não desaconselhamos de forma alguma as mães a pararem de amamentar, muito menos encorajamos o uso de alimentos comerciais na alimentação de bebês;, afirma a britânica Mary Fewtrell.

A opinião é compartilhada por Eucicleide dos Santos Gomes, 19 anos. O pequeno Victor Emanuel, 2, só deixou de mamar quando nasceu a irmã, Maria Vitória, que com 1 ano ainda é amamentada. ;Acho que é importante, ajuda a fortalecer a criança e mantê-la com mais saúde;, diz a dona de casa, que atribui ao leite materno a vitória do filho contra uma pneumonia que o atingiu quando ele tinha cerca de 6 meses. ;Acho que se ele não tivesse mamado como o médico aconselhou, talvez não tivesse resistido;, avalia a mãe.

De acordo com a pediatra Keiko Teruya, o leite materno não contribui apenas para a melhoria da saúde das crianças. Ela lembra que o ato de amamentar cria um vínculo entre o bebê e a mãe que dura a vida toda. ;Olhar nos olhos da criança, acariciar o corpinho dela, ajuda a ampliar e fortalecer o laço que os une. É como se apaixonar, é olhando no olho que o sentimento de amor surge;, compara a médica. Para ela, crianças que mamam no peito são mais amorosas e carinhosas, especialmente com suas mães.

É pensando em todos esses benefícios que a futura mamãe Ana Lídia Lima, 24 anos, pensa quando planeja como vai criar seu filho. Aos oito meses da primeira gravidez ; de um menino, que deve nascer em março ;, já está consciente da importância da amamentação. ;Enquanto ele quiser mamar, eu não vou impedir. O médico orientou até os 2 anos, e eu espero que até lá ele não largue o peito;, afirma. Para ela, que aguarda ansiosa a chegada do bebê, alimentar é um ato de amor. ;Acho que o leite é uma das coisas mais importantes que a mãe pode dar para seu filho;, resume.