Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Atenção com males comuns nesta época, como insolação, inflamações e dengue

Sol, calor, mar, piscinas, alimentação menos regrada: o verão traz, além das promessas, uma série de riscos

Com a chegada do verão, algumas doenças tornam-se mais frequentes, devido às características próprias da estação. Exposição prolongada ao sol, consumo de alimentos em locais de lazer ; muitas vezes sem a estrutura adequada para conservação ; e o convívio em áreas com muitas pessoas são alguns dos fatores de risco mais comuns nessa época. Eles exigem atenção e cuidados considerados simples e básicos para prevenir males e garantir que a diversão não acabe mais cedo.

O grande vilão é o calor, pois proporciona condições ideais para a ocorrência de certos tipos de doenças. As mais frequentes são aquelas provocadas pela perda de líquidos e consequente desidratação. Insolação, micoses e intoxicação alimentar (veja infografia) também são sérios problemas ; e podem atrapalhar tremendamente as férias.

O aumento da transpiração e o sofrimento provocado pela ingestão de alimentos contaminados ou mal conservados são muito frequentes. Esse quadro pode levar a pessoa à desidratação. ;Quando uma pessoa está desidratada, ela apresenta sede constante, fica muito tempo sem urinar, com a boca e mucosas secas, olhos ressecados e fundos e mais irritada;, descreve o clínico geral Gustavo Araújo. Segundo o médico, o problema pode ser grave e, por isso, deve ser evitado com um cuidado muito simples, o de ingerir líquidos regularmente.

A intoxicação alimentar decorre do hábito de as pessoas comerem na praia ou em outros locais que, muitas vezes, não possuem higiene adequada no preparo e conservação dos produtos. As refeições em restaurantes self-service, os salgadinhos na praia, os peixes e outros petiscos que ficam expostos por longos períodos à temperatura ambiente são os principais causadores do problema. Geralmente, esses alimentos estão contaminados com algum tipo de micro-organismo nocivo, não sendo obrigatório que eles estejam estragados para que ocorra a contaminação. ;O ideal é que as pessoas optem por alimentos cozidos, em vez dos crus;, sugere Marconi Pinhati, infectologista do Hospital Santa Luzia.

No verão, também aumenta a incidência de insolação ; e não é só por conta da exposição solar excessiva. Mesmo sem estar diretamente exposto ao sol, é possível ser atingido pelo problema. A areia reflete os raios solares e, desse jeito, aumenta a temperatura da pessoa pelo calor, não pela exposição direta. Nesse caso, a pessoa não queima, ;assa;. Ao primeiro sinal de insolação, é aconselhado que a pessoa procure uma sombra e hidrate-se de forma adequada. Cremes e loções hidratantes, além da ingestão de líquidos, são fundamentais, ressalta a alergista e imunologista Natasha Ferraroni.

Excessos
As infecções nas vias aéreas superiores, especialmente otites e amigdalites, são mais frequentes nas crianças, pois é comum que elas passem muito tempo dentro d;água no calor e isso pode causar inflamações no ouvido e na garganta. O recomendado é que os pais, em alguns casos, comprem tampões auriculares para os filhos, como forma de evitar problemas.

Os adultos, porém, não ficam imunes a esses problemas. Uma otite quase acabou com as férias do estudante Heitor Moraes, 20 anos. Durante uma semana, ele sofreu com dores no ouvido, inflamado por conta de banhos no mar. ;Achei que não fosse nada demais ficar mergulhando, até que, 15 minutos depois de eu sair do mar, a dor começou;, lembra. Por ser quente, úmido e escuro, o canal auditivo se inflama com facilidade e infecções causadas por fungos e bactérias, como a otite, acontecem. ;O ideal é secar os ouvidos com uma toalha e não nadar em águas impróprias;, ensina o clínico geral Gustavo Araújo.

Como se transpira muito nessa época e costuma haver mais contato com a água, a pele fica úmida por mais tempo. Essa umidade favorece o aparecimento das micoses, doenças causadas por fungos que podem ser adquiridos na praia ou nas piscinas. Todo o corpo pode ser afetado pelas micoses. No verão, é mais comum o acometimento das virilhas, dos pés e das unhas. O ideal é evitar o uso de roupas de banho molhadas durante períodos prolongados e secar bem o corpo após o banho.

O uso prolongado de roupas molhadas também pode propiciar o surgimento da candidíase. Causada por um fungo, ela ataca a vagina e provoca corrimento branco. ;A candidíase atinge mulheres de todas as idades e provoca ardor ao urinar e coceira;, esclarece Araújo. ;Por isso, nada de ficar com o biquíni molhado por muito tempo;, lembra o médico.

Entre as doenças infecciosas, a mais comum nesta época é a dengue. O calor e a umidade formam um ambiente perfeito para a reprodução do Aedes aegypti ; o mosquito que transmite o vírus. Segundo o infectologista Marconi Pinhati, as pessoas devem ficar atentas aos sintomas, como febre, dor de cabeça, dores pelo corpo e náuseas. ;O aparecimento de manchas vermelhas na pele, sangramentos (nariz, gengivas), dor abdominal intensa e contínua e vômitos persistentes podem indicar a evolução para dengue hemorrágica. Esse é um quadro grave, que necessita de imediata atenção médica, pois pode ser fatal;, disse Pinhati.

A melhor forma de evitar a dengue é combater os focos de acúmulo de água, locais propícios para a criação do mosquito transmissor da doença. Para isso, é importante não acumular água em latas, embalagens, copos plásticos, tampinhas de refrigerantes, pneus velhos, vasinhos de plantas, jarros de flores, garrafas, caixas d;água, tambores, latões, cisternas, sacos plásticos e lixeiras, entre outros.

Confira outras doenças que são comuns no verão, como evitá-las e tratá-las, segundo Natasha Rebouças Ferraroni, alergista e imunologista formada na Unicamp:

1. Insolação: ocorre quando há exposição demasiada ao sol, com desidratação e queimadura da pele. Os principais sintomas são aumento da temperatura corporal, dor de cabeça, vertigem e mal-estar. Por isto deve-se evitar a exposição solar principlamente entre os horários de maior incidência dos raios ultravioleta B - próximo do horário do meio dia. O ideal seria evitar exposição direta ao sol entre 10h e 16h. Durante este intervalo, somente com proteção: uso de filtro solar com fator de proteção alto a cada 2h. Vale ressaltar que reações na pele após a exposição solar também podem ser causadas por alergia ao filtro solar ou mesmo uso de medicamentos tópicos e maquiagem. Um filtro solar específico indicado pelo médico é a melhor opção. A hidratação de fora para dentro (cremes de loções hidratantes) e de dentro para fora - com ingestão de líquidos- é fundamental.

2. Fitofotodermatite: é uma inflamação na pele causada pela reação de enzimas presentes em frutas/ plantas e o sol. O mais comum é a reação pelo suco do limão ou laranja, ou outras frutas cítricas. A lesão evolui com prurido (coceira) e/ou ardência, descamação e escurecimento da pele. O uso de filtro solar é importante parar evitar tais reações e, se houver o contato, deve-se lavar a pele com água e sabão em abundância. O uso de cremes específicos para o tratamento podem ser prescritos pelo médico especialista se for necessário.

3. Fotossensibilidade: alguns medicamentos (ex.: hidroclorotiazida) utilizados para tratamento de determinadas doenças ,como hipertensão, podem causar lesões de pele quando o indivíduo se expõe ao sol, o quadro se assemelha à alergia de pele, mas o tratamento baseia-se na suspensão da medicação por outra que não seja fotossensibilizante. Algumas doenças sistêmicas também podem manifestar-se com lesões de fotossensibilidade na pele, simulando alergia (ex.: lúpus).

4. Herpes labial: trata-se de uma infecção causada pelo Herpes virus simplex , que se caracteriza pela formação de pequenas bolhas agrupadas em região dos lábios (mais comumente), precedida por ardência/queimação. A exposição intensa aos raios solares podem diminuir a imunidade local, propiciando a reativação do vírus: é a crise de herpes. O tratamento é feito com antivirais prescritos pelo médico. Por se uma doença contagiosa, deve-se evitar o contato direto (beijos). Também recomenda-se não compartilhar objetos pessoais (copos, talheres, batons...) para não contaminar outras pessoas.

5. Estrófulo: é a alergia a picada de insetos. A principal maneira de evitar o estrófulo é diminuir a chance da picada, o que pode ser feito com o fechamento de janelas às 17h, uso de repelentes amplamente disponibilizados para uso na pele (em gel, spray, creme, loção) ou no ambiente (velas de citronela ou andiroba, repelente de tomada etc), evitar o uso de roupas coloridas e perfumes quando estiver em locais abertos (praças, parques) ; isto chama a atenção dos insetos, que se aproximam pela semelhança com as cores de flores e seus aromas. Uma vez ocorrida a picada, o importante é lavar o local, uso de cremes com antibióticos podem ser necessários para evitar infecção secundária em alguns indivíduos predispostos a alergia. A aplicação de gelo pode ajudar

6. Larva migrans ou bicho geográfico: é uma infecção de pele causada por um verminose dos cães e gatos. Muito comum o contágio ocorrer em areia da praia ou do parque das crianças. A larva penetra na pele formando túneis que são vistos a olho nu, geralmente nos pés, muito pruriginosos. O tratamento pode ser feito com cremes específicos ou medicação oral.

7. Micoses: as infestações fúngicas na pele são propiciadas devido ao calor e suor excessivo. As áreas de dobras (virilhas- Tinea cruris) e interdigitais (entre os dedos dos pés ; famosa frieira) são mais comumente afetadas. O ideal é evitar o uso de roupas de banho molhadas durante períodos prolongados e secar bem o corpo após o banho. O tratamento é feito com medicamentos antimicóticos específicos tópicos ou orais.

8. Miliária: é a popular ;brotoeja;, consiste em erupções na pele causados pela obstrução das glândulas sudoríparas, desencadeadas pelo calor. Acomete principalmente as regiões de dobras (pescoço, virilhas, axilas)e pode ser pruriginosa. O tratamento é feito evitando-se uso de roupas sintéticas, banhos com água na temperatura ambiente, uso de amido durante o banho; cremes específicos e medicações anti-inflamatórias podem ser necessárias.

9. Urticária ao calor: consiste em placas elevadas avermelhadas na pele, muito pruriginosas, desencadeadas pelo calor. Trata-se de uma urticária física, pode ser ou não uma manifestação de alguma doença subjacente. A avaliação de um especialista é imprescindível para o diagnóstico correto e a prescrição de medicação adequada.

10. Alergia versus intoxicação alimentar: durante o verão, férias na praia, é comum a ingestão de alimentos à beira-mar, preparados com higiene duvidosa. Desta forma, o quadro de vômitos e diarréia podem ocorrer, e o diagnóstico pode ser facilmente confundido entre alergia e intoxicação alimentar. Febre ou lesões na pele avermelhadas podem estar presentes. O importante é evitar a ingestão de alimentos de origem duvidosa, além de evitar alimentos aos quais o indivíduo é sabidamente alérgico. O tratamento para ambos, além de hidratação, medicação analgésica e antiespasmódica, inclui o uso de medicações específicas para alergia ou antibióticos dependendo do quadro clínico.