Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Nova etapa na corrida espacial divide agências: voltar à Lua ou ir a Marte

Qual será o futuro da pesquisa espacial? A ousadia ainda quase inimaginável de uma viagem a Marte ou a volta à Lua? Os próximos passos da exploração do cosmos dependem de decisões estratégicas dos governos com recursos suficientes para acalentar o sonho. O Planeta Vermelho poderia abrigar uma colônia de pesquisa e exploração mineral, enquanto o satélite natural da Terra serviria como um ponto de escala para o longo caminho até o solo marciano. No entanto, apesar dos problemas tecnológicos que impedem a humanidade de ir mais longe, não está nas máquinas o principal entrave para a reconquista lunar ou a conquista marciana. Conseguir explorar novas fronteiras sem prejudicar o próprio planeta é um dos desafios da exploração espacial. Assim como nas grandes cidades, o lixo no espaço já virou um grande problema. Pedaços de artefatos que foram sendo lançados na órbita da Terra nestes mais de 50 anos de exploração espacial representam uma ameaça aos novos satélites e telescópios. ;Estima-se que atualmente existam cerca de 20 mil detritos com mais de 10cm na órbita da Terra. Esse material precisa ser constantemente monitorado para não atingir e danificar os equipamentos que atualmente estão em uso;, conta José Monserrat, pesquisador da história da exploração do espaço. O impacto ambiental causado na Terra pela construção de equipamentos utilizados nas missões espaciais também é outra variável que precisa ser equacionada na complexa equação do cosmos. Esse tipo de missão esbarra hoje em outra questão ética que praticamente não existia nos primeiros anos da conquista do Universo: o uso de animais. O primeiro ser vivo no espaço, a cadela Laika, morreu devido ao superaquecimento na entrada da Terra. Novas experiências com o uso de cobaias, especialmente primatas, estão previstas nos programas de exploração de Marte da Nasa, despertando reações contrárias de grupos de defesa dos animais. Para defensores dos direitos dos animais, as agências espaciais precisam se manifestar contra esse tipo de pesquisa, que exporá os bichos a altos níveis de radiação. ;Queremos que a Agência Espacial Brasileira (AEB) se posicione contra a utilização de primatas em experimentos com radiação espacial, pois é uma questão ética de suma importância. Ninguém quer mais ver esse tipo de abuso com os animais;, afirma Antoniana Ottoni, da ONG Animal Defenders International.

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Por outro lado, a Nasa defende que este tipo de pesquisa vai ajudar a proteger os astronautas. ;Sem um maior conhecimento nessa área, a segurança dos astronautas e o sucesso da missão não podem ser assegurados. Melhorar a nossa compreensão dos riscos das radiações vai ajudar a Nasa a desenvolver contramedidas biológicas para neutralizar esses riscos;, afirmou JD Harrington, oficial de relações públicas da Nasa, em entrevista ao Correio. Outro problema que precisa ser superado antes de viagens tripuladas ao espaço distante é o do tempo. Para ir a Marte, por exemplo, seria necessário viajar durante anos, e as naves atuais não seriam suficientemente fortes para suportar trajetos tão longos. Além disso, o corpo e a mente humanos teriam dificuldade de suportar um período de isolamento tão longo. Mais do que desenvolver satélites e foguetes poderosos que possam alcançar o Planeta Vermelho e outros lugares do cosmos, a humanidade terá que evoluir e superar suas próprias limitações antes de alçar voos tão distantes. ;Com certeza, teremos mais projetos espaciais funcionando e vamos para Marte em algum momento, embora eu ache que ainda temos que amadurecer como civilização antes de fazer isso;, opina o astronauta Edgar Mitchell.
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