Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Excessos alimentares e alcoólicos no fim de ano agravam a indigestão

O fim do ano chegou e, com ele, as confraternizações com amigos, colegas de trabalho e familiares. Tudo acompanhado de comida farta e calórica, regada com muita bebida ; e ainda tem o réveillon. Com tantos exageros, o corpo cobra a conta, trazendo uma companhia indesejável: a indigestão. O problema ; que não é considerado uma doença ; é causado por males no trato digestivo, como refluxo gastrointestinal, gastrite ou pedra na vesícula (veja infografia). Ele é desencadeado pela inflamação do revestimento do estômago e pode resultar do excesso de produção de suco gástrico.

Em muitos casos, a indigestão decorre da ingestão rápida e exagerada de alimentos durante uma refeição, do consumo de comidas muito gordurosas e do excesso no consumo de bebidas alcoólicas ; a receita completa das comemorações dessa época.

Segundo os médicos, a maioria dos alimentos oferecidos nas ceias de Natal e réveillon não são adaptados para o ambiente brasileiro. Eles são gordurosos e típicos de ambientes frios, como países da Europa e os Estados Unidos. Não há, portanto, o costume de consumi-los. Quando ocorre o exagero na ingestão e isso é somado ao álcool, é um caminho traçado para problemas. ;Quando ingerimos muita gordura, etapas do processo digestivo que duram minutos podem durar de oito a nove horas;, esclarece Vladimir Schraibman, especialista em gastrocirurgia do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. Vem daí a sensação de estômago estufado.

Para os indivíduos que sofrem com o problema, só resta buscar o equilíbrio na hora de escolher os alimentos. O ideal, então, é uma porção pequena de cada alimento. ;Escolha uma porção de proteína, de preferência menos gordurosa, duas ou três frutas, uma porção de carboidrato (pão ou massa) e vegetais cozidos;, sugere a nutricionista Flávia Isabel Jorge Gonçalves.

A receita da nutricionista é bastante conhecida do designer José Lucas Ferraz, 59 anos. Há 30 anos, a indigestão o acompanha. São dores no estômago, queimação e dores de cabeça que o deixam longe de panetones, farofas e doces. ;Se ingerir qualquer um desses alimentos, minha indigestão ataca em 15 minutos;, atesta. Nas poucas vezes em que se arriscou a comer esse tipo de produtos, concluiu que o dia seguinte não valeu o prazer de saboreá-los. ;Ano passado, chutei o balde. Passei a noite e o dia seguinte inteiro passando mal. Nesse ano, meu prato no Natal se restringiu a uma fatia de lombo, um pouco de arroz e tutu;, resigna-se Lucas.

Ressaca
O consumo exagerado de bebidas alcoólicas é outro causador da indigestão. O álcool diminui uma substância que protege o estômago e acaba causando sua inflamação. ;Seu consumo excessivo pode gerar gastrite, o que, por sua vez, pode levar a uma indigestão crônica;, informa Schraibman. Por isso, a velha máxima de que se deve evitar beber de estômago vazio é validada pela medicina.

Contudo, algumas pessoas não saem ilesas dos efeitos do álcool no organismo mesmo se alimentando antes de beber ; e acabam sucumbindo à ressaca. Para quem sofre de indigestão, a conta cobrada do organismo pelo álcool é mais cara. É o caso do assistente administrativo José Thiago Garcia, 26 anos, que sofre de refluxo. ;Quando bebo, piora. Já cheguei a ficar três dias com refluxo. É terrível;, conta.

Para diminuir essa e outras sensações provocadas pela ressaca, o ideal é preparar o corpo para a jornada etílica. Por isso, descanse bastante e consuma até quatro porções de frutas, vegetais verde-escuros e amarelos durante o dia. ;Esses alimentos têm vitaminas, glicose e antioxidantes, que vão ajudar no metabolismo do álcool, além de atuarem contra os radicais livres produzidos pelo consumo dessas bebidas;, ensina a nutricionista.

O corpo processa, grosso modo, cerca de 15ml de álcool puro por hora. Isso significa que a pessoa vai precisar de uma hora de abstinência para cada taça de vinho de cerca de 100 ml que tomar, para eliminar qualquer vestígio do álcool no organismo. Se a comemoração levar ao excesso, nem tudo está perdido. Algumas coisas podem ser feitas.

O primeiro passo é a hidratação. ;Ao acordar, tome um copo de água gelada;, ensina Flávia. Por que água gelada? Porque ela fica menos tempo no estômago, ou seja, é mais rapidamente absorvida pelo organismo. O segundo passo é a alimentação. Nem de longe pense em comer alimentos gordurosos, carnes malpassadas e frituras. ;Prefira frutas que têm glicose e vitaminas. Mas não precisa deixar o arroz e feijão de lado;, diz Flávia. Se a queimação ocorrer, o ideal é consumir vegetais cozidos.

Pessoas que sofrem de hipertensão e diabetes devem monitorar a pressão arterial. Segundo a nutricionista, o ideal é aferir a pressão e ficar atento a sintomas, como vômitos recorrentes. Se isso ocorrer, é bom ir ao pronto-socorro. ;As pessoas que têm alguma doença de base (diabetes e hipertensão, por exemplo) podem ingerir esses alimentos servidos nas ceias e não sentir nada na hora. Mais tarde, porém, podem passar mal, porque eles são muito salgados;, diz a nutricionista.

No fim do dia, se não estiver muito cansada, é bom que a pessoa dê uma caminhada para melhorar a circulação do sangue. ;A caminhada deve ser leve, sem alteração de batimentos cardíacos. Ela serve para oxigenar o sangue e evitar a produção de mais toxinas no corpo;, esclarece Flávia.