A região mais populosa do Brasil é também uma das mais férteis em achados fósseis. Há cerca de 80 milhões de anos, a área que hoje corresponde ao Sudeste e à parte inferior do Centro Oeste era a casa de dinossauros e de outros grandes répteis. Pelo que revelam as descobertas feitas nos últimos anos, essa parte do país era dominada principalmente por um grupo de animais contemporâneos dos dinos, chamados de crocodilomorfos, parentes distantes dos crocodilos e jacarés atuais. A predominância desses animais estava ligada às condições ambientais. O cenário era semelhante à caatinga nordestina. O clima árido tinha temperaturas extremamente altas, que chegavam a 60;C à sombra. Por isso, não era qualquer animal que conseguia viver ali. ;Tudo indica que a evolução deixou os crocodilomorfos mais adaptados que os dinossauros. Por isso sua predominância;, explica Ismar de Sousa Carvalho, diretor do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ismar Carvalho, paleontólogo da UFRJ, fala sobre os ancestrais brasileiros dos crocodilos. A prova dessa adaptação está nas dezenas de fósseis encontrados na Bacia Bauru, que tem extensão de 500 mil quilômetros quadrados e abrange, além do oeste paulista e do Triângulo Mineiro, o sul de Goiás e o leste de Mato Grosso. ;Temos encontrado diversas espécies e quase sempre essas descobertas têm nos mostrado partes essenciais dos animais, como as garras;, diz Carvalho. Essas garras seriam o principal instrumento para colocar em prática uma das estratégias de sobrevivência mais elaboradas desses bichos: o ato de se enterrar para fugir das temperaturas altas. ;Ainda hoje esse comportamento é adotado por alguns crocodilos e jacarés ; ao que parece, herdado desses animais pré-históricos;, expõe o paleontólogo da UFRJ. Os fósseis desses crocodilomorfos têm características bastante peculiares e diferentes dos seus descendentes atuais. Eles nem de perto se parecem com os crocodilos e jacarés de hoje, que se arrastam e vivem em ambientes pantanosos, de clima úmido e quente. Os répteis do Período Cretáceo tinham grande capacidade de deslocamento em terra e não dependiam diretamente da água. Eram predadores ativos e vorazes. ;Seus membros ficavam abaixo do corpo, em vez de ser na lateral. Isso dava a eles maior agilidade. E eram onívoros, ou seja, comiam de tudo;, descreve Reinaldo Bertini, paleontólogo do Departamento de Geociências da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Rio Claro. Algumas espécies desses animais pré-históricos desapareceram e não deixaram descendentes. Outras, porém, apresentam aspectos da anatomia que fazem uma ligação com os crocodilos atuais, como o Montealtossuchus, cujo fóssil foi encontrado na região de Monte Alto (SP) (veja arte). ;Ele nos mostra a possibilidade de ser um elo no processo evolutivo das formas atuais de crocodilos;, afirma Ismar Carvalho. Merece destaque também um crocodilomorfo de 70 milhões de anos, batizado de Uberabasuchus terrificus. Encontrado em setembro de 2000, em um sítio paleontológico de Uberaba (MG), o fóssil do animal estava com 70% do esqueleto preservado. Dinossauros Entre os dinossauros encontrados na região, está o titanossauro, um saurópode herbívoro e pescoçudo que, geralmente, chegava a ter 25m de comprimento. No entanto, o estudo do fóssil mostra que a espécie sofria de nanismo no Brasil, tendo apenas 15m de comprimento e entre 4m e 5m de altura. Para os especialistas, isso se devia à adversidade climática do local. Outro achado revelador do grupo Bauru são os dentes de deinonicossauros, cujo nome significa lagarto de garras terríveis. Esse dinos tinham dentes com bordas serrilhadas, semelhantes às dos temíveis velocirraptores (aqueles que o cineasta Steven Spielberg colocou correndo atrás das crianças no filme Parque dos dinossauros). Até então, animais desse tipo só haviam sido encontrados na América do Norte.
Senhores do céu
A era dos supercrocodilos