Com dimensão continental, o território brasileiro guarda um verdadeiro tesouro pré-histórico. São fósseis de dinossauros, crocodilos, répteis voadores, peixes e plantas espalhados por todo o país. Encrustrados nas pedras, fragmentos desses organismos ajudam a contar a história da evolução de animais e de vegetais que habitam hoje o planeta. A partir de hoje, o Correio convida o leitor a uma viagem pelos períodos pré-históricos do Brasil.
O país abriga fósseis de idades entre 230 milhões e 65 milhões de anos, desde a metade do Período Triássico até o fim do Cretáceo. Os conjuntos paleontológicos estão distribuídos por todas as regiões, com destaque para a Bacia do Araripe, no Nordeste; o Rio Acre, no Norte; o grupo Bauru, no Sudeste; e as formações Caturrita e Santa Maria, no Sul.
No centro do Rio Grande do Sul, há abundantes afloramentos de rochas do Triássico, uma época em que viviam animais anteriores aos dinossauros. Por essa razão, e por guardar restos de animais bem conservados, a área é uma das mais procuradas por pesquisadores de todo o mundo. Lá, foi encontrado o maior predador de todo o Triássico Médio, o Prestosuchus chiniquensis (veja ao lado).
Em 2009, pesquisadores da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) acharam, próximo ao município de Dona Francisca, o fóssil quase completo desse predador ; 70% do esqueleto, feito raro no mundo da paleontologia. O Prestosuchus viveu há aproximadamente 238 milhões de anos e fazia parte do grupo dos tecodontes, que mais tarde dariam origem aos dinossauros e mamíferos. ;Esse animal ainda não era conhecido. Havia apenas uma ideia de como ele seria;, diz Lúcio Roberto da Silva, biólogo e integrante do grupo de pesquisa.
No Sudeste, o predomínio são de rochas do Cretáceo. Dividindo o território com os crocodiliformes ; que eram maioria na região e deram origem aos crocodilos atuais ;, estavam os maiores dinossauros brasileiros, como o Antarctosaurus brasiliensis, um titanossauro que podia alcançar 40m de comprimento. Até agora foram encontradas sete espécies de titanossauros no Brasil, todos nas rochas da Formação Marília, em São Paulo, e no conjunto paleontológico conhecido como Pedreira Caieira, em Minas Gerais.
O Período Cretáceo também está representado nas rochas que afloram na Região Nordeste. Atualmente, a Chapada do Araripe, que abrange os estados de Ceará, Pernambuco, Piauí e Paraíba, é uma região que armazena rochas consideradas integrantes de um dos conjuntos fossilíferos mais importantes do mundo. Em uma das suas unidades, a Formação Santana, é encontrada uma numerosa e variada quantidade de fósseis de plantas, insetos, peixes, tartarugas, crocodilos, pterossauros e, ainda que raros, restos de dinossauros. Na região de Souza (PA), pode ser vista uma grande quantidade de pegadas de dinossauros.
Já na Região Norte, o acesso a afloramentos de rochas é mais difícil devido à Floresta Amazônica. As rochas que surgem datam do Período Mioceno Superior e Plioceno ; períodos mais recentes, entre 5 milhões e 8 milhões de anos. No Acre, os pesquisadores localizaram o fóssil de um dos maiores crocodilos extintos já encontrados, o Purussaurus. Ele é considerado o maior predador da Amazônia e podia chegar a 18m de comprimento.
Apesar da imensa área territorial do Brasil, a paleontologia nacional ainda engatinha em relação aos outros países. Embora o primeiro fóssil brasileiro tenha sido achado em 1936, foi a partir de 1999 que houve um crescimento em pesquisas paleontológicas. ;Até 1999, havia três ou quatro dinossauros descobertos. Hoje chegamos a 21;, comenta Alexandre Kellner, paleontólogo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Isso quer dizer que, em uma década, encontrou-se mais dinossauros no país do que nos últimos 100 anos. ;É claro que ainda falta muito, mas, em linhas gerais, estamos melhorando, graças aos investimentos na área;, completa.