Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Estudo comprova que poluição compromete fertilidade masculina

Um levantamento realizado pela Faculdade de Medicina da USP mostra que a exposição constante à poluição emitida por veículos pode afetar a qualidade do sêmen humano. Foram comparadas amostras do esperma de 61 controladores de tráfego de São Paulo com as de 198 homens férteis do grupo de controle.

Apenas 27% dos espermatozoides dos integrantes do primeiro grupo apresentavam motilidade adequada, isto é, tinham condições de se locomover em velocidade e trajetória adequadas para possibilitar a fecundação do óvulo. No outro grupo, o índice chegava a 40%.

Os ;marronzinhos;;, como são conhecidos estes profissionais, ficavam expostos à fumaça seis horas por dia. O estudo não considerou fatores como estresse, tabagismo e idade.

"Ainda não sabemos exatamente qual é o mecanismo que leva os poluentes a prejudicarem a qualidade do esperma, mas supomos que seja por causa dos metais pesados liberados pelos escapamentos", diz a autora do estudo, a biomédica Juliana Andrietta.

Segundo a médica, é possível estender os resultados da pesquisa à população de São Paulo. "Todos nós ficamos horas parados no trânsito. A poluição é um fator que colabora para essa diminuição da qualidade do esperma, junto com o estresse e a má alimentação", explica.

Estresse é apontado como fator a mais


Para Otto Chaves, chefe do Departamento de Andrologia da Sociedade Brasileira de Urologia, o estresse deveria ter sido levado em conta no levantamento da USP. "Até que ponto o estresse não entra como componente a mais nos resultados? Um controlador de tráfego vive sob alta pressão", ressalva.

No começo do ano, a Organização Mundial da Saúde redefiniu os níveis ideais de fertilidade masculina. Todos os critérios ; concentração de espermatozoides, motilidade e morfologia (forma) ; tiveram padrões de normalidade rebaixados.

No caso da motilidade, que foi objeto do estudo da USP, o padrão de espermatozoides em condições de fecundar um óvulo era de 50% em 1999. Hoje é de 32%.

Para Rodrigo Pagani, urologista do Hospital das Clínicas, isso não quer dizer que a fertilidade caiu. "Os últimos estudos realizados foram mais rigorosos. Notou-se que homens abaixo dos níveis anteriores de fertilidade conseguiram engravidar mulheres".