Aos 96 anos, a austríaca Lily Port não para. Faz bicicleta ergométrica, caminha na esteira, e sobe e desce a escada de casa 65 vezes por dia. Com 104, o americano Irving Kahn ainda trabalha na mesma empresa de investimentos que ajudou a fundar e, nas horas vagas, adora ler livros de ciência. A alemã Irma Daniel, 103, participa de encontros com a comunidade ativamente. Maria Isabel Rodrigues Pereira, 90, gaúcha radicada em Brasília, cuida da alimentação e passa horas com linha e agulha de tricô nas mãos. O que esses quatro idosos têm em comum, além de muita disposição? Para um grupo de cientistas americanos, a resposta está na genética. No entanto, é preciso ajudar esses genes considerados privilegiados. Os hábitos de vida saudáveis não deixam de ser uma peça-chave no caminho da longevidade.
Descobrir como a genética pode influenciar no processo de envelhecimento é o objetivo dos pesquisadores da Universidade de Medicina de Albert Einstein, nos Estados Unidos, com o projeto Longevity Genes. Para tentar desvendar quais genes são os responsáveis por anos a mais de vida, eles estudam um grupo de 500 idosos entre 95 e 112 anos e suas famílias. Os voluntários, além de ter uma herança genética, mantêm hábitos saudáveis e possuem uma atividade social e física intensa. ;A relação da causa e efeito da longevidade ainda é um caso difícil de se determinar. Pode ser que, por causa da genética, eles sejam ativos e cheios de saúde, e não ao contrário;, disse ao Correio Nir Barzilai, chefe do estudo e diretor do instituto de pesquisa do envelhecimento da universidade.
Mais velha de nove irmãos, Maria Isabel conta apenas com a companhia das duas irmãs mais novas. Cheia de disposição e vaidosa que só, até há pouco tempo ela morava sozinha em São Gabriel, no Rio Grande do Sul, onde nasceu. ;Vim morar com as minhas filhas em Brasília porque andei caindo e me quebrando;, brinca. Apesar da artrose nas duas pernas, ela caminha diariamente com a ajuda da cuidadora, faz fisioterapia e passa horas executando uma de suas atividades favoritas: o tricô. ;Faço uns casaquinhos e meias de bebê, depois dou para as mães que precisam ou para a igreja. Fora o incômodo das pernas, não tenho nada, ontem mesmo fui ao médico e estou ótima;, conta.
Maria Isabel não acredita que o segredo da longevidade esteja nos genes, mas na boa alimentação e nos bons hábitos que adquiriu ao longo da juventude. ;Eu nunca tive um vício na vida, sempre fui muito controlada, ajudando o meu marido e cuidando das minhas filhas. Também caminhávamos muito. Não como comida pesada, não passo sem meu alface e as verduras. Como meu pai era espanhol, comia muito grão de bico, azeite de e bacalhau, coisa que adoro até hoje;, confessa. Estresse é uma palavra que não entra no vocabulário da gaúcha. ;É preciso manter a cabeça ativa. Lia muito quando era jovem e agora só faço o tricô. Temos que ter uma coisa para nos distrair, não? A preocupação é uma coisa acaba com a gente;, filosofa.
Meio ambiente
O envelhecimento e o surgimento de doenças são determinados pela interação entre os nossos genes e o meio ambiente. A combinação dos dois pode ajudar muito na longevidade, segundo o pesquisador americano. ;Nós sabemos muito sobre como os hábitos de vida podem adiar o envelhecimento e as doenças. Como, por exemplo, manter uma dieta saudável e se exercitar. A vantagem dos nossos centenários é porque eles têm genes de longevidade que parecem protegê-los contra muitos efeitos do ambiente e, ao mesmo tempo, eles viveram sem doenças por um longo período;, afirma Barzilai.
A austríaca Lily, que vive em Nova York e participa do grupo de voluntários do projeto americano, cuida da alimentação desde os 16 anos. Doce? Só de vez em quando. ;Eu tento me manter longe de comidas gordurosas a qualquer custo;, declarou em um vídeo feito pela universidade. Além de fazer exercícios diariamente, ela viaja muito. Nos últimos dois anos, foi para Israel, Turquia, Indonésia e Austrália. Já a voluntária Irma acredita que não foi apenas na parte genética que a família a ajudou a completar 103 anos. ;Minha mãe estava na vanguarda, ela sempre disse: ;Coma os seus vegetais!’. Outra coisa: trabalhar e se manter ativo é a melhor coisa para não envelhecer;, aconselha.
Durante o estudo, os pesquisadores descobriram que aqueles que apresentam uma longevidade excepcional têm um nível elevado de colesterol HDL, também conhecido como colesterol bom. ;Nós encontramos algumas mutações nos genes do colesterol que podem explicar esse índice mais alto. Existem várias teorias de como isso pode funcionar ou influenciar no envelhecimento, mas ainda não temos certeza de nada;, explica o chefe do estudo.
Para Otávio de Toledo Nóbrega, doutor em patologia molecular e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB), descobrir como a genética define a longevidade é um caminho longo. Ele participa de uma pesquisa na qual são identificadas as espécies de genoma que levam uma pessoa a desenvolver o mal de Alzheimer. ;Os genes fazem parte de uma conjuntura. Uma pessoa pode ter uma tendência genética a ter colesterol alto e a outra, doenças cardiovasculares. A partir desse grupo é que vamos saber se a pessoa nasceu com um melhor ou pior prognóstico. E isso é muito individual. Nós herdamos genes, mas eles existem em diferentes versões;, explica o especialista.
Os pesquisadores estão em busca das versões de genes mais abundantes nos centenários e que tipo de proteção genética eles podem possuir contra doenças crônicas. De acordo com Nóbrega, é como se o grupo tivesse ganhado uma espécie de loteria biológica. ;Nascer com um perfil favorável para a longevidade é pouco provável. Porém é preciso sempre contribuir com a genética, não basta contar com a sorte. Um gene ou um conjunto de gene por si só não podem definir a longevidade. Um estilo de vida sem estresse, com uma estimulação da mente, boa nutrição e exercícios físicos é o que se deseja para envelhecer bem;, analisa o professor.
A ideia dos pesquisadores americanos é encontrar os genes que protegem os centenários e traduzi-los para desenvolver uma medicação para que outras pessoas possam se beneficiar do privilégio genético. ;Nós ainda não encontramos todos os genes da longevidade. A vantagem de encontrar esse gene é que podemos desenvolver uma droga que imite o que ele está fazendo. Ao aprender todos os fatores que diminuem o risco dessas doenças que afetam a população mundial quando as pessoas ainda estiverem jovens, todos podemos ser mais saudáveis por mais tempo, enquanto envelhecemos;, revela Barzilai
Dicas
Atitudes para viver mais
; Durma bem e descanse
; Faça sexo pelo menos duas vezes por semana
; Ria muito e divirta-se com os amigos
; Faça exercícios regularmente
; Mantenha uma dieta saudável
; Estabilize seu peso
; Faça um check up regularmente
Alimentação inteligente
; Sinta prazer ao comer
; Consuma fibras
; Tome um café da manhã completo
; Beba litros de água
; Coma muitas frutas e vegetais
; Coma menos carne e mais peixe
; Tente sempre colorir seu prato
; Aprenda a comer menos
Exercício inteligente
; Simplesmente comece a se exercitar
; Use sua imaginação para descobrir novos exercícios
; Fortaleça o seu coração com exercícios com peso
; Respeite seus limites
; Sempre se alongue
; Crie sua própria rotina
; Elimine as toxinas através do suor
; Não arranje desculpas
; Mantenha seu cérebro em forma