Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Três alunos da UnB vencem o 7º Congresso de Iniciação Científica do DF

Foram agraciados trabalhos nas categorias de humanas, exatas e ciências da vida

Na sexta-feira passada, Arthur Ferreira da Costa Lins fez aniversário de 30 anos. A felicidade pela data foi completada com um telefonema recebido pelo formando de pedagogia da Universidade de Brasília (UnB). Era a notícia de que sua pesquisa de mapeamento da escolaridade dos migrantes do Distrito Federal foi escolhida a melhor na área de ciências humanas durante o 7; Congresso de Iniciação Científica do DF e o 16; Congresso e Iniciação Científica da UnB ; dois eventos simultâneos realizados entre 8 e 11 de novembro e cujos resultados foram divulgados nesta semana.

Para o estudante, o reconhecimento é um estímulo para seguir pesquisando. ;Quando entrei na universidade, quis direcionar meus estudos para algo que tivesse alguma ligação direta com a sociedade. Quando a professora me convidou para participar do projeto, achei interessante, pois era algo que me faria ver de perto a realidade das pessoas;, explica Arthur, que se formou na mesma semana em que apresentou seu projeto no congresso.

Assim como o estudo de Arthur, outros 1,1 mil trabalhos de todas as áreas do conhecimento, produzidos por alunos da Universidade Católica de Brasília (UCB), do Centro Universitário de Brasília (UniCeub), da Fundação de Ensino e Pesquisa em Saúde (Fepecs), além da UnB, foram apresentados e julgados por uma comissão de avaliadores externos. Além de uma oportunidade de mostrar o que foi produzido nos principais laboratórios do DF, o congresso encerra um ciclo de desenvolvimento de novos conhecimentos. ;Notamos um interesse cada vez maior pela pesquisa científica. Dois anos atrás, o Programa de Iniciação Científica (PIC) da UnB contava com cerca de 500 alunos. Hoje, esse número chega a 800;, conta professor Mário César Ferreira, diretor de Fomento à Iniciação Científica da universidade federal.

Ferreira explica que o interesse crescente em ciência não vem apenas que quem pretende seguir carreira acadêmica, como pesquisador. ;Houve uma mudança na mentalidade das empresas. O mercado de trabalho valoriza cada vez mais profissionais críticos, que sabem manter o rigor na busca por dados e possuem um visão ampla;, comenta. ;E a pesquisa é uma excelente oportunidade para adquirir esses conhecimentos. O perfil do pesquisador é algo muito procurado pela iniciativa privada;, completa.

Vencedora na categoria Ciências da Vida, a estudante do último semestre de farmácia Priscila Torres concorda com o diretor. ;Ainda não sei se continuarei no mundo científico, mas de qualquer forma os conhecimentos que adquiri aqui vão ser úteis pelo resto da vida;, afirma a estudante. Em seu estudo, Priscila mostrou que mesmo cientes dos perigos trazidos pelo manuseio de agrotóxicos, os trabalhadores rurais de comunidades do DF e de Goiás resistem em utilizar os equipamentos de segurança. ;Gosto de pesquisa, apenas não sei se é o que seguirei;, conta a estudante.

Entre as constatações de seu trabalho, focado nas comunidades de Taquara, no Distrito Federal, e Goianápolis, em Goiás, está a de que o problema de intoxicação não está relacionada à desinformação. ;A maioria sabe que os produtos fazem mal, mas não se protege porque considera o material caro, acha-o desconfortável ou até mesmo duvida de sua eficiência;, conta a estudante.

Social
O vínculo com a comunidade que a pesquisa de Priscila buscou também foi importante para o estudo de Sylvia Faria, aluna do 5; semestre de engenharia do câmpus da UnB no Gama. ;Queria criar algo que fosse útil para as pessoas, que pudesse ser utilizado para trazer algum benefício para a sociedade;, conta a estudante, que desenvolveu um ambiente de realidade virtual para treinar estudantes de medicina a fazer cirurgias. O projeto levou o prêmio na categoria Ciências Exatas.

Mesmo com a vitória no congresso, o trabalho de Sylvia está longe do fim. ;Vamos continuar trabalhando nesse projeto para desenvolver melhor um hardware para esse fim;, explica. ;Quando pronto, antes de ir para os hospitais, os estudantes poderão aprender no computador todo o processo cirúrgico, o que melhorará a qualidade do ensino em medicina;, completa.

Este ano, o Congresso de Iniciação Científica da UnB trouxe uma novidade. Integrado à Semana de Extensão e a atividades de ensino, o evento uniu os três pilares da universidade: ensino, pesquisa e extensão, durante a 1; Semana Acadêmica da UnB. ;A ideia de unificar os três eventos foi muito interessante, pois a universidade pode viver uma semana de intensas atividades, mas muito produtiva;, comenta o professor Mário César Ferreira.


As melhores

Conheça as três pesquisas premiadas


Ciências humanas
Arthur Ferreira da Costa Lins investigou o nível de alfabetização de adultos que migraram para o Distrito Federal entre 1958 e 2000. De acordo com a pesquisa, entre 1971 e 1980, 32% das pessoas que vieram para a capital não eram alfabetizadas. No período de 1956 e 1960, 23% delas não sabiam ler ou escrever. Entre os que vieram de 1981 a 1990, o índice cai para 11% e, nos migrantes de 1991 a 2000, o índice é de 12%. Foram feitas entrevistas em Ceilândia, Recanto das Emas e Taguatinga. Depois de chegarem à capital, 93% dos pesquisados frequentaram a escola por até um ano ou nunca foram à sala de aula. Durante a realização das entrevistas, Arthur frequentou uma escola do Recanto das Emas que possui Educação de Jovens e Adultos (EJA). Para o pesquisador, o programa que busca a alfabetização tardia não funciona. ;Em fevereiro de 2010, 51 pessoas matricularam-se no curso do Recanto das Emas. Em maio, apenas 14 frequentavam as aulas;, explica. ;Isso é uma questão de política pública. Eles acabam desmotivados, pois as atividades de ensino não estão de acordo com o perfil deles, são ligadas ao universo infantil.;

Ciências da vida
Priscila Torres, aluna do curso de farmácia, investigou, nas regiões de Taquara (DF) e Goianápolis (GO), o nível de exposição de pequenos agricultores a um dos agrotóxicos mais perigosos utilizados diariamente nas lavouras, o organofosforado. A estudante concluiu que 76,5% dos 60 agricultores entrevistados conhecem bem os riscos do produto, mas a informação não os motiva a utilizar os equipamentos de proteção. Máscaras, óculos, luvas, chapéus, botas e macacões impermeáveis são objetos que não fazem parte da rotina desses homens e mulheres, que cultivam principalmente tomate e pimentão. Dos 98,3% dos pesquisados que consideram importante o uso dos equipamentos, apenas 43,3% utilizam-nos no dia a dia. Já 33% dos ouvidos relataram náuseas, tonturas, dores de cabeça e irritação nos olhos, mas apenas 10% deles relacionaram os sintomas ao uso dos produtos.

Ciências exatas
Sylvia Faria, do 5; semestre de engenharia eletrônica, começou um projeto que busca ajudar futuros médicos em seus procedimentos. A ideia é que eles treinem no computador o que farão nos seus consultórios. Ela criou um consultório médico usando a realidade virtual para que estudantes de medicina simulem a punção nas mamas ; uma técnica que utiliza agulha para extrair amostras líquidas ou sólidas de um nódulo. Ela criou, no ambiente virtual, instrumentos utilizados por médicos e uma paciente para ser atendida. A mama da paciente fica exposta para a realização da punção. ;A mama é totalmente igual à de um ser humano, com todos os detalhes, como veias, gorduras e nódulos, por exemplo;, explica. Para trabalhar, o estudante de medicina terá um braço-robô instalado no computador. O programa entende os comandos do braço e faz a extração da amostra. O sistema, que ainda está em fase de testes, poderá, no futuro, ajudar as universidades em outras aplicações da medicina.

Fonte: UnB Agência