Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Uso de morfina pode diminui em grande dose a testosterona

Utilizada para minimizar o sofrimento de pacientes que sofrem de dores crônicas, a morfina pode desencadear, nos homens, um efeito colateral até então desconhecido: apenas uma injeção do opioide é o suficiente para reduzir em grande dose o hormônio testosterona no cérebro e no plasma. De acordo com um estudo publicado ontem na revista especializada Molecular Pain, a substância afeta o corpo em áreas relacionadas à produção da testosterona, como cérebro, fígado e testículos.

A pesquisa, realizada com ratos, mostrou que a morfina aumenta no organismo a quantidade de aromatase, enzima responsável pela sintetização do estrogênio e que está relacionada à diminuição da produção de testosterona. Esse hormônio é muito importante e está intimamente ligado a funções cognitivas, como o humor e o controle motor, além de desempenhar um papel estratégico na estrutura óssea.

;As descobertas da pesquisa são muito importantes para o tratamento de pacientes com dor crônica. Hoje, os profissionais da área de saúde estão preocupados não apenas com o tratamento da dor, mas como lidar com os efeitos colaterais das drogas e se esforçam para oferecer as melhores possibilidades aos pacientes que sofrem com o problema;, escreveu na introdução do estudo o médico Marco Pappagallo, do Departamento de Anestesiologia da Faculdade de Medicina de Monte Sinai, em Nova York.

;O hipogonadismo (diminuição dos testículos ou ovários) induzido por opioides pode causar complicações à saúde, como fadiga crônica, perda de estamina, distúrbios emocionais e sexuais, assim como dores no aparelho musculoesquelético;, completou.

Segundo os pesquisadores, já se observou que pacientes tratados com opioides ; tanto por longos quanto por curtos períodos ; apresentam níveis menores de hormônios gonadais, secreções cujos órgãos-alvo são o ovário e os testículos. O hipogonadismo é um problema identificado em usuários dessa substância, que padecem de dores crônicas. Ainda não se conhecia, porém, o motivo.

Mas, apesar dos efeitos colaterais, os pesquisadores dizem que o objetivo do estudo não foi limitar o uso de opioide no controle da dor. Em vez disso, eles sugerem que os médicos devem levar a informação em consideração no tratamento dos pacientes, administrando terapias de reposição hormonal, juntamente com a morfina e outras drogas do tipo. Segundo os pesquisadores, dessa forma, os pacientes conseguem o alívio da dor e a melhoria da qualidade de vida