Vinte e nove mil anos depois da extinção do homem de neandertal, o Homo sapiens começa a fazer descobertas reveladoras sobre o estilo de vida desse primo distante. Uma delas, publicada ontem pelo Journal Proceedings of the British Royal Society, acaba de descrever um atributo, até então desconhecido, dos abrutalhados homens das cavernas: sua intensa atividade sexual. E para chegar a essa conclusão, os pesquisadores se basearam no comprimento do dedo de fósseis encontrados, que, segundo especialistas, pode indicar promiscuidade entre os hominídeos.
Liderada por Emma Nelson, da Universidade de Liverpool, na Inglaterra, a equipe observou fósseis de dedos de quatro espécies de hominídeos: o Ardipithecus ramidus, um que viveu cerca de 4,4 milhões de anos atrás; o Australopithecus afarensis, entre 3 milhões e 4 milhões de anos; os neandertais, que desapareceram há cerca de 29 mil anos; e um fóssil de um Homo sapiens, como os humanos modernos são anatomicamente conhecidos, de cerca de 90 mil anos de idade. A teoria de Emma Nelson é baseada na razão entre o comprimento do dedo indicador e do dedo anelar.
Pesquisas anteriores realizadas por seu grupo concluíram que a exposição no útero a hormônios sexuais como andrógenos, nos quais se inclui a testosterona, afeta o comprimento dos dedos - e comportamentos sociais futuros. Eles também estão relacionados com competitividade e promiscuidade, de acordo com a pesquisa. Os cientistas admitem que sua abordagem é nova, e são necessárias mais evidências para lançar luz sobre o comportamento social dos seres humanos antigos. "Apesar de as proporções dos dedos fornecerem algumas sugestões muito interessantes sobre o comportamento dos hominídeos, aceitamos que a evidência é limitada e que precisamos de mais fósseis", disse Emma.
Intelecto
Outro estudo sugere que o grau de sofisticação intelectual dos neandertais era maior do que se imaginava. O trabalho, que será publicado em dezembro na revista especializada Teoria e Método Arqueológico, é fruto de sete anos de pesquisas na Itália, com ênfase na extinta cultura ulziana, que floresceu no sul do país europeu, cerca de 42 mil anos atrás. Essa cultura é atribuída aos neandertais e não tem qualquer semelhança com outro período cultural da espécie, o mousteriano, que tem clara influência do primo Homo sapiens.
Em sítios arqueológicos onde há vestígios ulzianos, o pesquisador Julien Riel-Salvatore identificou projéteis, ferramentas de ossos, ornamentos e evidências de peças usadas para caçar e pescar. Essas inovações, que não são tradicionalmente associadas aos neandertais, sugerem fortemente que a cultura evoluiu independentemente do Homo sapiens, em uma região totalmente separada geograficamente dos humanos modernos.
"Estou reabilitando os neandertais", diz o cientista. "Minha conclusão é que se a cultura ulziana é neandertal, isso sugere que o contato com os homens modernos não era necessário para explicar a origem desse novo comportamento. E isso contrasta com a ideia de que os neandertais foram aculturados pelos humanos, de quem herdaram a tecnologia", afirma o antropólogo no estudo. "Ao mostramos que os neandertais podiam inovar seu elenco de artefatos, acho que estamos ;humanizando; a espécie", observa.