Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Novo implante de retina traz esperanças para os cegos

PARÍS - Médicos alemães anunciaram, esta quarta-feira (3), um importante avanço em implantes de retina, uma tecnologia que visa a devolver a visão a pessoas que sofrem de alguma forma de cegueira hereditária.

Três pacientes nos quais foi implantado um novo dispositivo foram capazes de ver formas e objetos. Um deles, inclusive, conseguiu caminhar em um quarto sozinho, se aproximar de outras pessoas, ver as horas em um relógio e distinguir entre sete tons de cinza.

O dispositivo "representa um avanço sem precedentes no campo das próteses visuais eletrônicas", anunciou a Royal Society britânica, que publicou a pesquisa em uma de suas revistas. "(O novo implante) pode chegar a revolucionar a vida de até 200 mil pessoas de todo o mundo que sofrem de cegueira provocada por retinose pigmentar", acrescentou a fonte.

A retinose pigmentar é uma doença degenerativa em que os receptores de luz da retina, na parte posterior do globo ocular, param de funcionar, gradativamente.

Nos últimos sete anos, cirurgiões têm aplicado, de forma pioneira, implantes eletrônicos conectados à retina e unidos por cabos a uma pequena câmera externa montada sobre um par de óculos. A câmara capta a luz e envia ao implante a imagem em forma de sinal elétrico, através de uma unidade do processador. O implante, então, fornece dados ao nervo óptico, que vai do olho ao cérebro.

O novo dispositivo representa um avanço, ao captar a luz que viaja através da lente natural do olho.

O implante é composto de um microchip equipado com 1.500 sensores de luz unidos debaixo da retina, substituindo assim alguns dos receptores perdidos.

O que o cérebro recebe através do nervo óptico é uma pequena imagem de 38 x 40 pixels (pontos de luz que são mais brilhantes ou mais tênues, segundo a luz que incide sobre o chip). "Três pessoas que antes eram cegas conseguiram localizar objetos brilhantes em uma mesa escura, dois deles puderam discernir desenhos tramados", destacou o documento, publicado na revista Proceedings of the Royal Society B, periódico dedicado a temas biológicos.

"Um destes pacientes foi capaz de descrever e nomear corretamente objetos como um garfo ou uma faca sobre uma mesa, figuras geométricas, frutas diferentes e discernir sombras de cinza com um contraste de apenas 15%", acrescentou.

Graças à função visual recuperada, esta pessoa conseguiu, sem receber treinamento prévio, localizar e se aproximar sozinha de pessoas em um quarto, bem como ler letras grandes e palavras completas depois de vários anos convivendo com a cegueira.

O implante foi desenvolvido ela empresa alemã Retinal Implant AG, em conjunto com o Instituto de Pesquisa Oftalmológica da Universidade de Tubinga, sul da Alemanha.

O principal pesquisador deste estudo, Eberhart Zrenner, professor de Tubinga e co-fundador da Retinal Implant, em 1996, disse que o estudo piloto mostrou que é possível recuperar as funções visuais para ajudar os cegos na vida cotidiana.