Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Remédio para dor de cabeça reduz o risco de morte por câncer de próstata

Estudo norte-americano mostra que ingestão de anticoagulantes, como o ácido acetilsalicílico, reduz em até 50% o risco de morte de pacientes com a doença. Pesquisador ressalta, porém, que serão necessárias mais análises para se recomendar o uso do remédio como terapia

Há mais de 100 anos, o ácido acetilsalicílico tem sido usado como elixir contra febre, enxaqueca e dores musculares. Nesse meio tempo, outras aplicações foram sendo descobertas para o medicamento, mais conhecido pelo nome comercial aspirina. Evidências científicas mostraram que a aspirina evita a formação de coágulos no sangue e combate alguns tipos de tumores. Agora, um estudo apresentado na reunião anual da Sociedade Americana para Radiação Oncológica, em San Diego, sugeriu que o remédio também pode ajudar os portadores de câncer de próstata a viver mais.

A pesquisa, liderada pelo oncologista Kevin Choe, da Universidade de Dallas, investigou a ação dos anticoagulantes na prevenção da mortalidade de homens com tumor maligno na próstata e que ainda não haviam desenvolvido metástase. Mais de 5 mil pessoas participaram do estudo, que constatou uma queda de 50% no risco de morte entre o grupo que ingeriu algum tipo de anticoagulante ; entre eles, a aspirina, consumida por 1.649 voluntários. De todos os afinadores de sangue, o ácido acetilsalicílico foi o que mostrou melhores resultados.

De acordo com Choe, a motivação da pesquisa foi o fato de que cientistas já haviam constatado, anteriormente, que essas substâncias evitam o crescimento das células cancerígenas, assim como sua dispersão pelo organismo. O médico lembra, porém, que a maior parte dos estudos feitos com pacientes de câncer, até agora, não foram conclusivos. Enquanto alguns mostraram um bom resultado, outros não interferiram no estágio da doença. Para Choe, isso se deve ao fato de os participantes das pesquisas anteriores já apresentarem metástase. ;Se o câncer já se espalhou, então os anticoagulantes podem não ser tão benéficos;, afirma, no estudo.

O trabalho que ele apresentou na reunião de radiologia foi mais promissor. Os pacientes em estágio avançado foram os mais beneficiados e tiveram menor risco de morte, comparando-se àqueles que não ingeriram o medicamento (veja arte). ;Mostramos que os pacientes que tomam medicamentos afinadores do sangue têm menores riscos de morrer de câncer de próstata, e esse benefício foi mais proeminente nos que estavam com a doença mais avançada;, disse Choe ao Correio. ;Tumores de alto risco são mais agressivos e, portanto, os portadores desse tipo de câncer morrem mais que os outros;, lembra o pesquisador. Mas ele ressalta que os voluntários que fizeram parte da pesquisa haviam passado por cirurgia ou radioterapia, e que o medicamento foi apenas complementar.

O médico explica que há tempos existem evidências de que o câncer e o sistema circulatório podem ter alguma relação, embora ainda não se tenha esclarecido exatamente qual. ;Pacientes que desenvolvem coágulos nas pernas e nos pulmões tendem a sofrer de câncer mais frequentemente;, diz. Segundo Choe, quando entram na corrente sanguínea, as células cancerígenas ficam revestidas por plaquetas. Disfarçadas, elas ficam menos suscetíveis ao ataque do sistema imunológico e também conseguem adoecer outras partes do corpo, dando origem à metástase. ;Talvez os anticoagulantes interfiram nesses processos;, esclarece.

Apesar do resultado do estudo ser promissor, Choe não recomenda que homens diagnosticados com câncer de próstata façam uso frequente da aspirina. ;Precisamos de mais estudos. É prematuro dizer que o remédio deve ser usado como terapia para todos os pacientes de câncer de próstata. A aspirina também tem alguns riscos, inclusive o sangramento estomacal;, alerta o médico. Procurado pelo Correio, o presidente da Sociedade Americana para Radiação Oncológica disse concordar com Choe. ;A descoberta da pesquisa que ele apresentou é intrigante, mas os dados precisam ser confirmados, além da necessidade de se saber exatamente a dose ideal e a duração do tratamento. Temos de ter certeza de que os benefícios são maiores que os riscos antes de recomendar o remédio aos pacientes;, disse Anthony Zietman, que também é professor da faculdade de Medicina de Harvard.

Hormônios
Um outro estudo apresentado na reunião anual da Sociedade Americana para Radiação Oncológica mostrou que portadores de câncer de próstata tratados com uma combinação de terapia hormonal e radiação têm sobrevida maior. De 1995 a 2005, 1.205 homens com alto risco de morte foram divididos em grupos, nos Estados Unidos, na Inglaterra e no Canadá, para a pesquisa ; parte deles recebeu apenas os hormônios e outra parte submeteu-se à combinação de terapias.

Os pacientes foram acompanhados durante seis anos pelo Instituto Nacional do Câncer do Canadá, o Conselho de Pesquisa Médica da Inglaterra e o Grupo Oncológico do Sudoeste, dos Estados Unidos. Os resultados da primeira fase da pesquisa mostraram que a adição da radioterapia à administração dos hormônios diminuiu significativamente. ;Se a análise final for semelhante, podemos esperar uma redução de 43% no risco de morte dos pacientes;, afirma, no estudo, o principal autor do estudo, o oncologista Malcolm Mason, da Universidade de Cardiff, na Inglaterra.

De acordo com os pesquisadores, há muita variação no tratamento para homens com câncer de próstata localizado ; sem metástase ; e de alto risco. Enquanto nos últimos anos tem aumentado o número de pacientes tratados com hormônios e radiação, muitas vítimas do tumor ainda recebem apenas a terapia hormonal, que consiste na administração de medicamentos para diminuir a produção dos hormônios masculinos, o androgênio, fazendo com que a próstata diminua de tamanho ou o tumor cresça mais lentamente.

No estudo apresentado à Sociedade Americana para Radiação Oncológica, os médicos aplicavam a radiação diretamente na pele da próstata, com o objetivo de destruir a maior parte do tumor e matar as células cancerígenas em volta do órgão. Segundo Mason, os pacientes relataram pouca dor e disseram que a sensação era semelhante à de uma descarga de raios X. Os efeitos colaterais mais frequentes foram alterações intestinais leves e problemas na vesícula. Poucos tiveram perda de cabelo e náusea, como costuma ocorrer em outros tratamentos oncológicos, como a quimioterapia.

Câncer de próstata - Saiba mais

Epidemiologia

O aumento observado nas taxas de incidência pode ser parcialmente justificado pela evolução dos métodos diagnósticos, pela melhoria na qualidade dos sistemas de informação do país e pelo aumento na expectativa de vida do brasileiro.

Na maioria dos casos, o tumor apresenta um crescimento lento, de longo tempo de duplicação, levando cerca de 15 anos para atingir 1 cm; e acometendo homens acima de 50 anos de idade.

Fatores de Risco

Assim como em outros cânceres, a idade é um fator de risco importante, ganhando um significado especial no câncer da próstata, uma vez que tanto a incidência como a mortalidade aumentam exponencialmente após a idade de 50 anos.

História familiar de pai ou irmão com câncer da próstata antes dos 60 anos de idade pode aumentar o risco de câncer em 3 a 10 vezes em relação à população em geral, podendo refletir tanto fatores hereditários quanto hábitos alimentares ou estilo de vida de risco de algumas famílias.

A influência que a dieta pode exercer sobre a gênese do câncer ainda é incerta, não sendo conhecidos os exatos componentes ou através de quais mecanismos estes poderiam estar influenciando o desenvolvimento do câncer da próstata. Contudo, já está comprovado que uma dieta rica em frutas, verduras, legumes, grãos e cereais integrais, e com menos gordura, principalmente as de origem animal, não só pode ajudar a diminuir o risco de câncer, como também de outras doenças crônicas não transmissíveis.

Sintomas

O Câncer da próstata em sua fase inicial tem uma evolução silenciosa. Muitos pacientes não apresentam nenhum sintoma ou, quando apresentam, são semelhantes ao crescimento benigno da próstata (dificuldade miccional, freqüência urinária aumentada durante o dia ou a noite). Uma fase avançada da doença pode ser caracterizada por um quadro de dor óssea, sintomas urinários ou, quando mais grave, como infecções generalizadas ou insuficiência renal.

Diagnóstico

O diagnóstico do câncer de próstata é feito pelo exame clínico (toque retal) e pela dosagem do antígeno prostático específico (PSA, sigla em inglês), que podem sugerir a existência da doença e indicarem a realização de ultra-sonografia pélvica (ou prostática transretal, se disponível). Esta ultra-sonografia, por sua vez, poderá mostrar a necessidade de se realizar a biópsia prostática transretal.

Tratamento

O tratamento do câncer da próstata depende do estagiamento clínico. Para doença localizada, cirurgia, radioterapia e até mesmo uma observação vigilante (em algumas situações especiais) podem ser oferecidos. Para doença localmente avançada, radioterapia ou cirurgia em combinação com tratamento hormonal têm sido utilizados. Para doença metastática, o tratamento de eleição é hormonioterapia.

A escolha do tratamento mais adequado deve ser individualizada e definida após discutir os riscos e benefícios do tratamento com o seu médico.

Detecção precoce do câncer da próstata

A detecção precoce de um câncer é composta por ações que visam o diagnóstico precoce da doença em indivíduos sintomáticos e por ações de rastreamento, que é a aplicação de exames para a detecção da doença em indivíduos assintomáticos. A decisão do uso do rastreamento como uma estratégia de saúde pública deve se basear em evidências científicas de qualidade. No momento não existem evidências de que o rastreamento para o câncer da próstata identifique indivíduos que necessitam de tratamento ou de que esta prática reduza a mortalidade do câncer de próstata. Desta forma, o Instituto Nacional de Câncer não recomenda o rastreamento para o câncer da próstata e continuará acompanhando o debate científico sobre este tema, podendo rever esta posição quando estiverem disponíveis os resultados dos estudos multicêntricos em curso.

A próstata é uma glândula que só o homem possui e que se localiza na parte baixa do abdômen. Ela é um órgão muito pequeno, tem a forma de maçã e se situa logo abaixo da bexiga e à frente do reto. A próstata envolve a porção inicial da uretra, tubo pelo qual a urina armazenada na bexiga é eliminada. A próstata produz parte do sêmen, líquido espesso que contém os espermatozóides, liberado durante o ato sexual.

Como surge o câncer de próstata?
O câncer da próstata surge quando, por razões ainda não conhecidas pela ciência, as células do órgão passam a se dividir e a se multiplicar de forma desordenada, levando à formação de um tumor. A grande maioria desses tumores cresce de forma tão lenta que não chega a dar sintomas durante a vida e nem a ameaçar a saúde do homem. Alguns, porém, podem crescer de forma rápida, espalhando-se para outros órgãos e podendo levar à morte.

Como prevenir o câncer de próstata?
Até agora, não são conhecidas formas específicas de prevenção do câncer da próstata. No entanto, sabe-se que a adoção de hábitos saudáveis de vida é capaz de evitar o desenvolvimento de certas doenças, entre elas o câncer. Deste modo, é importante:
; fazer no mínimo 30 minutos diários de atividade física;
; ter uma alimentação rica em fibras, frutas e vegetais;
; reduzir a quantidade de gordura na alimentação, principalmente a de origem animal;
; manter o peso na medida certa;
; diminuir o consumo de álcool;
; não fumar.

Quem apresenta mais risco de desenvolver câncer de próstata?
Os dois únicos fatores confirmadamente associados ao aumento do risco de desenvolvimento do câncer de próstata são a idade e história familiar. A grande maioria dos casos ocorrem em homens com mais de 50 anos e naqueles com história de pai ou irmão com câncer de próstata antes do 60 anos. Alguns outros fatores, como a dieta, estão sendo estudados, mas ainda não há confirmação científica.

Quais os sintomas do câncer de próstata?
Os principais sintomas relacionados ao câncer de próstata são:
; presença de sangue na urina;
; necessidade frequente de urinar, principalmente à noite;
; jato urinário fraco;
; dor ou queimação ao urinar.

A presença de um ou mais destes sintomas não significa que você esteja com câncer, pois várias doenças podem ter sintomas semelhantes. Por isso, é muito importante a visita ao seu médico, para esclarecimento diagnóstico, tão logo os sintomas surjam. Esta é a melhor forma para se chegar ao diagnóstico precoce do câncer da próstata.

Fonte: Instituto Nacional do Câncer (Inca)